21 de mar. de 2011

Meu voto é do Boanerges, o Boa Nova do IFPR.

Quem faz injúria vil e sem razão
Com forças e poder em que está posto
Não vence, que a vitória verdadeira
É saber ter justiça nua e inteira
         
                      Camões (Os Lusíadas)


Gostaria de cumprimentar o candidato Prof. Colombo e parabenizar com orgulho a ‘aventura’ do Boanerges. Sim, Boa, não ganhamos as eleições ainda, mas já vencemos: demonstramos que não somos uma comunidade insossa e muda, que não só temos voz como temos vontade e capacidade de demonstrar nossa pessoa e nosso profissionalismo.
Aquele grupo pequeno que se reunia para dar origem a sua candidatura, por ter sido você o único a ter a coragem e ousadia de fazê-lo, conseguiu demonstrar o que é uma instituição democrática e, mais ainda, que nossas propostas são sólidas e comuns, sendo agora a mais legítima e possível de realização. Não que o Prof. Colombo não poderá realmente demonstrar o que propõem como novos rumos, mas seu mandato, se eleito, deverá ser, este sim, uma aventura. A qual deveremos acompanhar de perto, pois o que propõem é virar ao avesso tudo o que tem sido feito pela atual administração, a mesma que o selecionou como seu candidato.
Gostaria de parabenizar a todos os que contribuíram com nossas propostas, professores, técnicos e alunos. Para que fique claro, minha contribuição existe, mas muito aquém do que têm imaginado alguns e, aparentemente, para os dois candidatos, como se verá logo. Tenho recebido um tratamento que não tem qualquer propósito de ser, com uma fama que me espanta e não tem nada a haver com o que as coisas são por si mesmas. Vou contar-lhes como foi minha semana, de ré, para que entendam algo.
Recebemos nesta sexta-feira a visita do Prof. Colombo, na reitoria. As pessoas terão ampla liberdade para complementarem minhas faltas, este espaço é comum. Fiquei satisfeito pelo contato, o primeiro que tive, porque em momento algum, desde a origem de seu nome a candidato, antes da deflagração das eleições, eu tive oportunidade de vê-lo ou falar-lhe. Estimo que isto se dava por razões óbvias: a reitoria é o berço de sua candidatura e não seria por alguns poucos indecisos ou incisivos que ele “perderia” seu tempo por lá.
O Prof. Colombo nos falou e, em sua fala, eu sentia uma grande semelhança para com os artigos postados  neste blog. Diálogo entre as partes, elaboração de comissões para realização de normatizações, aceitação de críticas, planejamento geral e planejamento estratégico, gestão democrática, transparência irrestrita... Foi tão semelhante, tão semelhante que ele chegou a mencionar a analogia de desenvolvimento do IFPR comparado ao desenvolvimento de uma criança. Mencionou, também, os diversos meios existentes para interação dos servidores: “chat, fórum, e-mail, chat, é... fórum, enfim.“ É, faltou mencionar blog, o qual ele conhece, aprecia e segue. Mas é óbvio que tudo isso não existiu ali porque está neste blog: isso existe porque é o que deve ser o IFPR e é o que não temos no IFPR.
Daí a grande aventura do Prof. Colombo: de que forma se dará a “gradual transição”, já que o que necessita o Instituto é de uma forte e imediata transformação, a se iniciar, se existe uma pirâmide, do topo? (Abaixo lhes digo o porquê.) Ele falou também de sua experiência profissional, desde técnico a político (não necessariamente nesta ordem) e contou-nos alguns casos particulares de sua vida. Houve algumas perguntas, duas das quais me chamou a atenção e que não devem ser esquecidas. Digo isso para que percebam a necessidade incontida dos servidores desta instituição para dialogar: isso é do princípio de cada um no IFPR. O fato de eu ser colaborador da campanha do Boa não me faz ser o ‘mentor’ intelectual da mesma; existem professores e profissionais muito mais qualificados que eu naquele projeto.
As perguntas eram relevantes por que fundamentais. Fiquem a vontade para me corrigirem, sobretudo os autores das perguntas:
  1. Existe uma grande falta de comunicabilidade entre as próprias Pró-Reitorias do IFPR, por vezes uma tem de se submeter à outra e deixar seu próprio trabalho de lado. Como resolver este problema?
  2. Porque, em sua (Prof. Colombo) opinião, valerá à pena trabalhar no/para o IFPR, além da sujeição de um cargo e um salário?

Vejam, sou tão terreno quanto cada um aqui dentro; tão descontente e tão preocupado como cada um aqui dentro. Todos parecem ter as mesmas opiniões: “porque não nos ouviram e nos deram oportunidades de melhorar o nosso próprio trabalho e nossa instituição?” Mas estas vozes são a grande vitória, já conquistada, nestas eleições: nós falamos!
Além disso, o Prof. Colombo mencionou dois outros temas que me parecem fora de propósito, mas que são considerados relevantes dentro do IFPR. Ele, diferentemente de outros, o fez com justeza, demonstrou com clareza do que realmente se trata. O primeiro é sobre o Estágio Probatório, que, em minha opinião, poderia ter passado sem fazê-lo. É cada vez mais claro o fetichismo que existe no IFPR sobre o Estágio Probatório, “de cima para baixo”. Digo isto por uma experiência própria e gratificante, que me faz considerar como real tudo o que tenho ouvido dos Campi. E digo de “cima para baixo” porque está no programa (por e-mail) do Prof. Colombo que o exemplo tem de ser dado de cima. Por isso, gostaria de sugerir algo desde já e que seria inédito (penso, não tenho certeza) em autarquias do Brasil: instituir no IFPR o dispositivo de recall democrático (ver entrevista de Comparato ao Estadão). Este é o verdadeiro poder da comunidade: poder demonstrar o descontentamento com seu dirigente maior, também pelo voto. O exemplo tem de vir de cima, mas quem comprova (julga) o que é ou não exemplar são os que estão “em baixo”. Isso é a democracia: romântica, necessária, possível e real. O Prof. Colombo, no entanto, foi correto e digno quando disse: “o estágio probatório não é para reprovar o servidor; é para desenvolver o indivíduo em sua carreira e seu trabalho”. Eu complementaria dizendo que se algum desavisado fosse capaz de considerar um trabalhador (servidor) como “ruim, ruim e ruim”, três vezes consecutivas, estaria sendo naturalmente insano porque, como chefia, estaria se alto proclamando “incapaz, horrível e medonho”, respectivamente.
O segundo assunto mencionado, que também era fora de propósito para aquele momento, e que me tocou por motivos que logo relatarei, falava sobre “a ciência” da demissão. Existe todo um estudo científico sobre isso, o ato de se demitir, para que se minimize o “impacto” no demitido, para que seja dado um tratamento respeitoso e este não se suicide ou perca em demasia o seu sono e a sua razão. Ele comentou isso e deu exemplos de sua vida pessoal. O porquê de isso me ter chamado a atenção, agora lhes explico.
Minutos antes de entrar no auditório para ouvir o Colombo, recebo de uma voz amiga a segunda afirmativa da semana de que existe um processo administrativo (processo?) contra (ou a favor) minha pessoa. Procedem assim: identificam pessoas com quem tenho algum vínculo pessoal; informam a algum conhecido desta pessoa que o processo está cristalizado e que terei que me defender de alguma coisa, administrativa, jurídica, ou sei lá o quê. Sabem que a notícia chegará até mim. Com isso, o amigo, o conhecido do amigo e eu mesmo devemos ficar atentos, em silêncio, se possível, qualquer temor seria propício.
Este havia sido o segundo aviso (aviso?! alerta?!) deste tipo e se deu minutos antes de eu entrar no auditório para ouvir o Prof. Colombo dizer sobre as bases científicas da demissão. Foi mais ou menos assim: “existe como minimizar o sofrimento do demitido e uma das atitudes é demiti-lo pela manhã, para que o demitido se distraia durante o dia e durma bem de noite”. Na hora eu havia sacado (um saque é a pura imaginação): “querem o sofrimento, querem o silêncio, a dignidade, meu sono e meu fim de semana inteiro. O processo (?!) me será entregue nesta sexta-feira às 18 hrs., terei muito tempo para pensar, toda a noite, serei um ruminante durante o sábado e domingo e, então, se sobreviver, verei como me defender”. De fato, nada disso aconteceu fora da imaginação; exceção feita à ciência da demissão, que, creio, não tinha a intenção de ser para minha pessoa.
Ainda não tenho processos físicos a responder e tenho, sim, pensado bastante onde diabos caberia algum “erro” (?!). Mas conseguiram tirar um suor frio meu, que espantam meus amigos, que assustam seus conhecidos. A áurea processual faz cada indivíduo pensar um pouco melhor sobre a sujeição a um trabalho e a um cargo e o porque seria gratificante trabalhar em determinada instituição. E sobre isso eu tive um privilégio inquestionável e delicioso, um conselheiro de razão (jurídica) que me demonstrou o quão tenho me tornado famoso, pelo tanto de consideração que me dão.
Era quinta-feira. Eu estava um tanto apreensivo pela primeira comunicação virtual de um processo ainda irreal. Pela tarde, o Exmo. Sr. Procurador me procura. Foi quando se cristalizou o suor frio: daí em diante, quando existe a possibilidade de se falar e ouvir, não tenho qualquer gelo. Eu receberia um processo e teria que redirecionar meu calor, mas sairia desta atmosfera de ignomínia e poderia me defender por alguma razão, talvez humana, talvez jurídica.
No entanto, e daí me perco completamente, não havia um processo contra mim; não havia absolutamente nada contra mim e o Exmo. Sr. Procurador queria apenas averiguar se eu havia escrito um e-mail que não fazia sentido algum com o meu trabalho, minha pessoa e meu ambiente (reitoria). “Não, claro que não”, lhe respondi; “mas fico tremendamente impressionado com a fama que me dão.” Alguns me consideram o tutor da candidatura do Boa; outros o executor da campanha; e sei lá quantas outras possibilidades.
O Exmo. Sr. Procurador foi simpático em excelência, disse que estava ali para dar orientações, que em épocas de eleições é normal que o clima fique exaltado entre as partes e, claro, falou sobre o Estágio Probatório. Sobre este tema, ele adicionou o problema enorme de se ter de responder a processos administrativos durante este período, já que o “currículo” fica marcado. Também contou-nos sobre algumas de suas experiências e compartilhou alguns casos pessoais.
Disse-lhe, por fim, que a pessoa que havia recomendado, para ele, o meu nome como autor daquele e-mail, que se dispusesse a vir conversar comigo, se quisesse; sou grato por conhecer as pessoas, por poder me dispor a ouvir e a falar sobre nossas condições e motivações. E que desde o princípio defendi e defendo a candidatura do Boanerges porque as eleições é onde espaço da democracia melhor se justifica, onde teríamos um debate de ideias e propostas, onde surgiriam nossas legítimas insatisfações, de todos nós, para que sugeríssemos mudanças e propôssemos ações ao IFPR. O que jamais ocorreria havendo apenas um candidato. E até hoje me sinto atônito a acreditar que devemos (todos os servidores) aceitar que durante o processo de campanha, quando mais disponíveis ao IFPR tem de se fazer os candidatos, os mesmos devam sacrificar suas férias pessoais. Portanto, quando ouvi aquele diálogo ao telefone ficara naturalmente estarrecido pela forma sem transparência e, para mim, sem fundamentos com que exigiam do Boanerges que se retirasse em férias para promover o trabalho democrático para todos.
Hoje, sábado, ainda não tenho qualquer processo contra mim; não algo de fato. Mas tenho vários avisos de que existe. Como estamos em época de eleições, como me dão como um personagem de destaque na campanha do Prof. Boanerges, como o Prof. Colombo é originado da atual administração, começo a duvidar que eu receba o processo antes do dia do voto. Esta atual administração, aliás, têm recebido críticas de todas as partes e deve sim rever seus atos e suas atitudes, sem crer com isso que está sendo tratada com artifícios e politicagem, pois as motivações são gerais e são essenciais para a gestão democrática. E se o processo administrativo, contra ou a favor, não existe e não existir, que fique claro que é este tipo de comportamento que deve ser pacificamente combatido, denunciado e tratado de maneira exemplar: não pelo próximo reitor, mas pela atual e futura comunidade inteira do IFPR. Que haja algo para que eu responda, mas que sejam capazes de me dar a questão sem atravessar amigos e conhecidos. Aliás, é possível que um conhecido de amigo e o amigo em pessoa peçam licença quando minha presença se aproximar; eu os entenderei.
O clima é esse, de decisões pessoais tomadas sobre propostas fundamentais. Nós, Prof. Boanerges, já vencemos a batalha, ainda que nosso objetivo final seja receber a maioria dos votos das eleições. Nós já promovemos a democracia, as pessoas já reconhecem suas vozes e todos falam em mudanças e em ouvir. Parabéns Boa, professores, técnicos e alunos que estão juntos conosco, pela ousadia e a coragem. Demonstramos que temos propostas e temos personalidade e que nossa aventura é uma realidade que irá se concretizar por ela mesma: a força da comunidade.
O mal do Brasil (algo notoriamente presente aqui dentro) é achar que os políticos são os que resolvem os problemas do povo, quando na verdade é o inverso: somos nós que temos que enfrentar nossos problemas, assumir nossos compromissos e defender nossa riqueza. (Ah, sim: o Brasil é rico por natureza, “país rico é país sem miséria” é um péssimo slogan politicamente demagógico.)
Termino dizendo que caso o Prof. Colombo seja eleito, com satisfação terei o chimarrão pronto para que compartilhemos. Quanto ao suco de maracujá oferecido em sua fala aqui na reitoria (creem que foi para mim), não o recusarei, mas deixarei para antes de um bom sono noturno.
Parabéns para todos.
Até quinta-feira.

Mauricio Oberdiek

15 de mar. de 2011

Citações

Cartas sobre a educação estética do homem (de 1795):
“ De onde vêm, pois, esse domínio ainda tão geral dos preconceitos e esse obscurecimento das mentes, a despeito de toda a luz que a filosofia e experiência acenderam? Nossa época é ilustrada, isto é, descobriram-se e tornaram-se públicos conhecimentos que seriam suficientes, pelo menos, para a correção de nossos princípios práticos. O espírito de livre investigação destruiu os conceitos ilusórios que por muito tempo vedaram o acesso à verdade, e minou o solo sobre o qual a mentira e o fanatismo ergueram seu trono. A razão purificou-se das ilusões dos sentidos e dos sofismas enganosos, e a própria filosofia, que a princípio fizera-nos rebelar contra a natureza, chama-nos de volta para seu seio com voz forte e urgente – onde reside, pois, a causa de ainda sermos bárbaros?
Uma vez que não está nas coisas, tem de haver nas mentes dos homens algo que impeça a compreensão da verdade, por luminosa que seja, e sua aceitação, por mais vivamente que se apresente à convicção. Um sábio antigo percebeu isso, deixando-o cifrado na expressão significativa: sapere aude.

Johann Christoph Friedrich von Schiller


Ecce Homo, de como a gente se torna o que a gente é (de 1888):
“Apetece-lhe apenas o que lhe é benéfico; o seu agrado, o seu prazer cessa quando é ultrapassada a medida do suportável. Adivinha remédios contra o que causa danos, utiliza casos nocivos em sua própria vantagem; o que não o mata torna-o mais forte. Compila instintivamente a sua suma a partir de tudo o que vê, ouve, vive: é um princípio seletivo, e deixa de lado muitas coisas. Está sempre na sua sociedade, lide ele com livros, com homens ou com paisagens; honra ao escolher, ao admitir, ao confiar. Reage lentamente a todo o estímulo, com aquela lentidão que lhe ensinaram uma longa circunspecção e um orgulho deliberado – perscruta o fascínio que dele se aproxima, mas está longe de lhe sair ao encontro. Não crê nem na «infelicidade», nem na «culpa»: sente-se realizado, consigo, com os outros, sabe esquecer – é suficientemente forte para que tudo redunde em seu maior proveito. Muito bem, sou o contrário de um décadent: pois descrevi-me justamente a mim mesmo.”

Friedrich Wilhelm Nietzsche


do Filme Homem Aranha (de 2002):
"Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades."

tio Ben

4 de mar. de 2011

O Logo - o nome do blog

É longo, mas ....


O Muro

O primeiro que, havendo cercado um terreno, teve a ideia de dizer ‘isto me pertence’, e encontrou gente bastante simples para acreditar nele, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guerras e homicídios; quantas misérias e quantos horrores não teria poupado ao Gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou aterrando os valados, tivesse gritado aos seus semelhantes: “Não ouçam esse impostor; vocês estarão perdidos, se se esquecerem de que os pertencem a todos e de que a Terra não pertence a ninguém.”
Rousseau                       

Um muro é o que há de mais sólido para dividir dois espaços, duas partes, dois lados. É ele quem o faz ser, o um torna-se dois. Eu sou o muro. O que divido, não faço ideia; mas que há dois ou mais territórios, pronto me dou conta.
Está em discussão a formação de chapa para a nova diretoria do Sindiedutec. Sou convidado e estimulado a fazer parte. Não me oponho; lá me vejo assumindo a Diretoria de Assuntos Técnicos ou o que quer que seja. A partir de então, iludimo-nos todos, existe um responsável pelas opiniões dos Técnicos naquele que é o órgão a defender e promover nossos direitos. Pois digo ilusão porque nós temos uma grande afinidade entre a Administração Geral e o Sindiedutec; relação esta que não me pareceria, a priori, desqualificada, desde que se houvesse uma política de transparência entre ambos. Claro, num idealismo comunista: ambos buscando o bem comum e focados na realização do bem estar geral.  Porém, não tardou nada. Faltava um muro, aí se apresentava.
A temática era a Folha Ponto, a questão parecia ser a responsabilidade de informar do representante dos Técnicos no Conselho Superior, o fato era óbvio: não havia harmonia, aquela afinidade era pragmática e os atos eram silenciosos. Fui, muro, como quem deveria conduzir uma reunião entre dois espaços. Humanamente saí atordoado. Disse-me mais tarde um colega: “foi óbvio que você havia caído de paraquedas ali”. Mas sai contente, ainda que banhado das salivas disparadas em ataques e defesas de ambas as partes, dos dois lados. Lavado, saio ao sol para me secar.
Esta questão teve fim, para mim, há um bom tempo: o sol, inclusive, evita fungos. A questão da Folha Ponto, o qual sou adepto (mas não por isso não se deve discutir) da existência por duas razões, o dever e o poder, foi um ato da Administração, e apenas legitimado pelas forças, legítimas, da Administração. Eis, porém, a questão: a Administração poderia, ou deveria, ter agido de outra forma, que fosse mais participativa, ouvindo as partes envolvidas e não tomando como um ato seu apenas? Essa ‘A’ questão que supera o tema da Folha Ponto. Por isso, à peleja particular, assim considero, publicizada, após a reunião do Conselho Superior que decidiu a Resolução da Folha Ponto, entre e-mail e a publicação daquela Ata, eu naturalmente dei as costas e ignorei seus ‘in-significados’. Aos dois que assim agiram, trazendo as rusgas iniciadas quando me dispus em muro, lhes disse pessoalmente no momento em que tentavam se explicar: “enquanto os temas não forem participados e discutidos, apenas mais e mais atritos haverão entre as individualidades; portanto, nem se explique, não se preocupe, não tenho partido singular” (vocês dois possuem ampla liberdade para emitirem suas versões). Para mim, não há qualquer mistério em relação a isso; eu tomo sol.


O Sussurro

O diálogo é o modo, por excelência, de nós realizarmos nossa humanidade. Construir, produzir, formar sociedade, resguardar-se para o futuro são realizações alcançadas por vários animais, alguns de maneira a encher nossos olhos de admiração, talvez ‘inveja’. O diálogo, no entanto, é a capacidade fabular da pessoa humana. Sem o diálogo não haveria o raciocínio, uma pedra jamais seria um caminho e a caminhada seria fria como a morte. Sem o diálogo, a realidade não teria profundidade, qualidade ou textura. Os sentidos seriam luxúria, os prazeres seriam insanos, a fé seria imberbe.
Nossa história de humanidade é uma vasta recordação (re-cordis: do latim, voltar a passar pelo coração) em nossa identidade. Tudo o que somos, tudo o que podemos ser, tudo o que queremos ser está disposto em alguma origem sempre distante de nossa miúda presença. Essa é a substância mais límpida, porque transparente, de nosso meio: o Escolar. Quantos daqui, deste meio em particular, quantos daqui ignoram este fato? Podemos todos ter nossa especificidade, burocrática, informática, jornalística, contadora, pedagógica ou não; todos sofremos a educação, realizamos sua potencialidade e praticamos sua liberdade. A educação nos ensina a sermos grandes ante nossa miúda singularidade. É ela quem potencializa, no uso do diálogo, a compreensão de nosso fato, o existir, e nos demonstra a alegria do fato externo, a existência. E é assim, histórica e naturalmente, é assim que nos fazemos políticos: na co-existência. Este prefixo, co-, remete ao fato de que nenhum de nossos valores individuais se sobrepõe a outro, porque a existência é comum, em companhia, contígua.
Tudo isso é sabido e pacífico. Somos uma Escola (sim!, admitamos: somos uma Escola de educação básica e tecnológica, básica e primordial; mas não somos uma Universidade!). Tudo isso é sabido e pacífico, somos uma instituição pública. Vem de nossos ancestrais, também e com muita luta, a República e a comunitária democracia, cujos valores devem estar em todos os rincões de nossos lugares, em toda atmosfera de nosso ambiente, em todo encontro com nossos colegas. Mas tudo isso é sabido e pacífico. O que ninguém há de entender é porque aqui se sussurra tanto.
O fato de que não existam comissões estabelecidas para se agrupar as discussões na formação de proposições às temáticas de nosso trabalho não tira a legitimidade do que executa a Administração. Ela está correta em suas ações. E nós não teremos satisfação ou realidade, fundamento, se não o fizermos nós mesmos esta reunião de interesses. As queixas, as lamentações, os sussurros não servem para nada, posto que não movem diálogos. Este, para existir, tem de ter personalidade, acontecer em voz ativa. E não nos adianta agir para cobrar algo se não o fizermos com propostas para alguma coisa. A Administração, para mim, tem sido coerente em seus atos, porque age. Bem ou mal, autoritária ou democrática, ótima ou péssima: que importa essa simplista adjetivação, se não nos mobilizamos para demonstrar algo além do abstrato, algo que seja concreto? O fato de que suas atitudes sejam como são, é o fundamento para que nós tenhamos, façamos as respostas, de como deverão e poderão ser. Essa a mais transparente e legítima democracia. Não redimo, mas também não culpo, ‘a administração’ por este clima de burburinhos. Somos, por lei, uma entidade pública e democrática e temos o dever de agir para sua melhoria e aperfeiçoamento. Neste sentido, qualquer culpa é mera desculpa. A questão é a responsabilidade e ela é de todos nós.
(Abro aspas aqui para justificar, assim, a Carta Aberta que escrevi ao Presidente da Comissão Eleitoral. Eu a escrevi por obrigação legal e humana, já que discordo completamente que um servidor tenha que se submeter a este grande mal entendido, qual seja, o pedido de férias para exercer seu trabalho; também por causa desta relação direta, quando jamais poderia o ser, de um chamado telefônico, por que de uma comissão que necessita ampla legitimidade, onde devem agir excluídos de todos os particularismos e afinidades: somente o que transparece pode ser legítimo, e eu não posso (não poderia) me silenciar ante aquele testemunho. E não o fiz como acusação, porque acredito no (dele) direito de esclarecimento, público, sem restrição.)

A Sombra

A sombra não sou eu, mas de alguém que se direciona a um banco de praça para se encontrar com outros ‘alguéns’ e estabelecer um diálogo.
Meu nome é Migo e ocupo o cargo de Assistente em Administração na Pró-Reitoria de Interação com a Sociedade. Este blog não surgiu para confrontar espaço com o Sindiedutec, muito menos para fundamentar críticas à administração e ainda menos para panfletar nestas eleições à reitoria. Este blog surgiu por uma necessidade, talvez pessoal, porém pública. Não, não sou muro e já me sequei daquela discussão há algum tempo. Tampouco sou (apenas) Diretor Sindical e nem me prestarei a me fazer de cruz (essa idade é de um simbolismo...!) para qualquer sacrifício coletivo ou individual. Sou um servidor comum e, querendo ou não, dos concursados, minha posição na hierarquia é a base. Mas sou servidor. E, claro, sou ser humano.
Sou tentado, e é uma tentação muito forte, de nomear cada um dos servidores que tenho conversado de forma particular e que para mim transmitem alguma confiança para algo fazer. Mas jamais invadirei suas individualidades desrespeitando assim suas vontades. Eu o faria para que tudo isso que venho passando e que descrevo aqui, não seja um sussurro como os outros, a inexistir na realidade, e para demonstrar que não estou sozinho (que é o que creio). Como estas pessoas não se limitam a este ambiente da Reitoria, o modo pelo qual podemos iniciar uma ampla discussão em grupo e transparente se dá através da internet, daí o fundamento deste blog, para o qual me disponibilizo como ‘administrador’. Assim, depende de nós nos organizarmos para transferirmos o debate-diálogo da caixa de mensagens para um banco de madeira, da virtualização para a reunião, dos desejos para a realidade concreta. Este espaço eu o manterei para vocês se nomeiem, se comuniquem, dialoguem. Nós temos muitos temas a serem levantados e já sugiro uma forma: que em cada localidade (Campi) do IFPR se agrupem as pessoas interessadas e formulem as propostas, questões, respostas, ações... Veremos de que forma cada tema deve ser resolvido, como poderão ocorrer encontros de representantes destas localidades, como satisfazer nossas ansiedades. Eu não tenho lido e não tenho ouvido, por enquanto, nada em relação a isso. Mas alguns temas já são sabidos:
1)      Nossa representação no Conselho Superior: deverá ser realizada uma eleição muito em breve; devemos cobrar esta eleição; devemos divulgar esta eleição; devemos atrair “nossa classe”; podemos redigir um documento (esta uma sugestão minha) de compromisso para que nossos futuros representantes naquele conselho nos transmitam as informações sobre o que se discute e o que, como podemos fazer para o melhor do IFPR.
2)      Também haverá uma eleição para a CIS-Técnicos, que é uma comissão muito importante para a nossa categoria. Sobre este tema, a atual comissão já está providenciando a divulgação e a deflagração da eleição, e deveremos ter em breve um informativo sobre a mesma. É importante que todos os Técnicos participem, de todos os campi.
3)      Dentre os atos administrativos em vigência, temos que proceder com alguns questionamentos e proposições. Foi-me repassada, por um colega, a questão de o Estatuto normatizar a composição do Conselho Superior com acento para todos os nomes do Colégio de Dirigentes. Isso deve ser analisado e comentado: não está descaracterizada a proporcionalidade? Sei que existem outros temas e que existem outras ‘demandas’ a serem questionadas: a questão das eleições para diretores de Campus, por exemplo. A própria questão da Folha Ponto, do Regimento Geral, que ainda não se mostrou, entre outros. Não são questionamentos (apenas) meus, e se não nos manifestarmos, nunca se tornarão uma questão nossa.
4)      O Sindicato também é um tema a ser discutido. Independente do paladar político-partidário de cada um, é muito importante termos um Sindicato reconhecido e representativo de nossa categoria. A questão do Sindiedutec tem que ser claramente disposta e resolvida porque quanto mais nos ausentamos de sua condição, mas somos prejudicados por sua ausência. Ele é ou não legal para nós, Técnicos? Seria o Sinditest o nosso sindicato? Haveria alguma outra possibilidade? Isso também não é um questionamento apenas meu.
5)      As eleições para reitor: este é um grande momento para nós procedermos com o diálogo. Que fique claro, porém, que é um momento, mas que o diálogo deve ser realizado incessantemente. Comemorei, sim, o fato da existência de mais de um candidato e deixo explícita a razão disso, se não fosse óbvia: sem que houvesse uma apresentação pessoal e de propostas e de comprometimentos institucionais (porque com as pessoas da instituição), quantas das nossas ansiedades de participação não seriam deixadas como um sopro a se ignorar, tão fácil assim? E existem muitas coisas, impressões, atos e fatos que eu próprio quero me certificar, ver serem assumidos em público pelos candidatos, saber que existem como propósitos do próximo Reitor. Não como indivíduo, mas como servidor. Devido a tudo que tenho vivido, ouvido e sentido; devido ao que vocês têm transmitido e aos assuntos que aqui trato (e a tantos outros que devem ser tratados) e que busco explicitar a colaboração, o candidato único não faria qualquer movimento a reconhecer nosso sentido, porque não seria preciso. Então, teremos eleições, deveremos acompanhar para que transcorra, toda ela, legal e transparentemente, deveremos levantar nossas propostas e buscar apoio e comprometimento dos candidatos para com nossas questões. Devemos nos mobilizar.

São algumas das questões. Enquanto tudo isso não for por vocês comentado, assumido, dado em voz com nome e personalidade, serei nada além de uma sombra passante. Perdoem-me se escrevo tanto e vagamente; tento cuidar para que não haja discriminação ou apreciação equivocada. Sou um servidor, um observador e tenho desejos. Compartilho o que, compartilhado, deve ser consumado.
O blog se propõe a ter alguma funcionalidade; sua idealização é que seja um espaço transparente e comunitário. Eu gosto de escrever, mas me canso; e nós precisamos agir. Então, hajamos. Proponham. Façamos.

Mauricio

1 de mar. de 2011

Porque planejam os homens

Um homem prevenido - ou planejado, como queiram - vale por dois. Como boa máxima que é, essa frase me esquece a origem no momento. Apostaria, no entanto, em um berço militar. Sim, porque, na possibilidade de termos herdado algo positivo da arte da guerra, este seria, provavelmente, as bases da ciência administrativa atual. Na história não são poucos os exemplos de exércitos menores subjulgando outros muito maiores. Para ficar na cultura cinematográfica, poderíamos citar a clássica defesa do desfiladeiro das Termópolis, por Leônidas, e outra batalha semelhante - lutada sobre uma ponte estreita – em Stirling envolvendo escoceses e ingleses. O segundo exemplo foi recriado, como uso de toda liberdade poética possível, por Mel Gibson no filme Coração Valente.


O que esses exemplos apenas ilustram é como recursos, no caso homens, podem de fato ter seu emprego multiplicado quando há planejamento. Infelizmente no Brasil o planejamento não é lá algo muito popular. Muitos falam nele, mas poucos de fato estão familiarizados com a sua utilização. O planejamento é visto como momento de especulação abstrata inútil sobre o futuro, como simples perda de tempo. Aqui, a preferência é sempre por ir tocando as atividades e durante a execução corrigir eventuais erros. Nosso grande equívoco. O desperdício gerado pelos ajustes e erros na fase de execução são maiores que o pretenso “desperdício” de tempo da fase de planejamento. Isto é notório em qualquer relação, seja no nível pessoal, seja no social. Não é necessário experiência acadêmica para constatá-lo.

Claro que a descrença do brasileiro no planejamento não é gratuita. Estamos mais acostumados a ver exemplos de planejamentos falhos, pouco ou nada científicos, o que nos torna ótimos descrentes. Nossa própria historiografia oficial prefere uma versão de uma descoberta ao acaso, de Naus “desviadas” de seu curso, a uma versão em que aqui vieram como parte de uma trajeto previamente planejado. Estamos há séculos nesse círculo vicioso: planeja-se mal, executa-se mal, culpa-se o planejamento, desacredita-se o planejamento, planeja-se ainda pior.

Metodologias de planejamento

Planejar é, em essência, a atividade de estabelecer hipóteses e cenários sobre o futuro. Quanto mais consistentes forem eles, melhor será o planejamento. Para construir cenários realísticos, a administração lança mão de diversos recursos, principalmente os de cunho científicos: teorias, metodologias de levantamento e análise de informações, opiniões de especialistas.

De posse desses cenários, começa o trabalho positivo da administração. As hipóteses e cenários são categorizadas de acordo com as probalidades de ocorrência, bem como sobre os impactos que trazem. Analisa-se o meio externo da organização. Analisa-se a disponibilidade de recursos, os atuais e as possibilidades futuras. Chega então o momento da elaboração de preposições positivas, estabelecer a identidade organizacional (missão, valores, visão), objetivos a longo prazo, estratégias, metas, planos táticos, operacionais. Enfim, toda terminologia que todos já viram em algum momento ou outro.

Planejamento no IFPR

A análise dos documentos administrativos mais importantes do IFPR (o Plano de Desenvolvimento Institucional e o Planejamento Institucional 2011) nos fazem refletir sobre como o planejamento tem sido trabalhado e concebido internamente. Todos podem fazer um teste simples para ver se o planejamento é uma realidade dentro do IFPR: o quanto do meu trabalho do dia-dia está previsto em um planejamento maior, estratégico? Quantas horas de trabalho são dedicados a pensar em minhas metas? Eu tenho clareza de como meu trabalho está sendo refletido em uma melhor educação? Meus valores pessoais e opiniões estão de acordo com o que tem sido feito? Acredito que minhas ações são as melhores para o IFPR e para a educação do Brasil?

Confronte suas opiniões com a de seus colegas. Se não houver respostas claras, se houver divergências, há grandes chances do planejamento ter falhas.

O planejamento deve fazer um homem valer por dois, como comentávamos no começo do artigo. Essa mágica é feita através dos famosos alinhamento ou convergência estratégica de recursos. Pessoas atuando na mesma direção, com os mesmo objetivos e compartilhando valores terão resultados mensuráveis, concretos, sempre melhores. Pessoas desalinhadas estrategicamente desperdiçam o esforço e o trabalho em diversas direções. Nínguem vê o fruto concreto do trabalho e o resultado é a frustração de ver o tempo e, portanto, a vida evair-se. Os anos irão passar todos e então lembraremos: o que eu fiz de útil naquele 2011?

As eleições estão aí. É o momento de questionarmos o que queremos do nosso Instituto e assumirmos corajosamente nossas opiniões.


André Ribeiro Vicente,
Administrador lotado na PRI/IFPR, formado em Administração de Empresas pela ESAG/UDESC e em Jornalismo pela UFSC. Trabalhou como consultor em organizações governamentais do Estado de Santa Catarina, como assessor de imprensa do Laboratório ELOFAR e como repórter no grupo RIC/RECORD. É músico amador há 13 anos.