O PDI que não nos desenvolve e jamais nos representa.
Novos rumos, velhos destinos,
arcaicos métodos. Você participou ou conhece alguém que tenha participado de
algum grupo de discussão para se elaborar os planos de desenvolvimento
institucional? Você já ouviu falar ou presenciou alguma reunião aberta,
comunitária para se decidir sobre alguma expansão institucional? Você se lembra
de ver algum edital, alguma convite ou convocatória para a discussão pública e
comunitária dos passos institucionais rumo a algum futuro?
Nós (também) não. Nunca. Nada. E
excluímos a proposição de que apenas o “consulta interna”, por email, seja
suficiente para um ambiente democrático, pedagógico, científico e público: de
verdade. E se não há nada disso, se não existem reuniões públicas, debates
abertos, jogo franco e limpo no campo das idéias sociais pelos indivíduos que
formam a instituição, então não existe um desenvolvimento institucional pautado
nos valores que a lei preconiza para a instituição, não temos ética,
eficiência, transparência. Mais do que isso, não cultivamos os verdadeiros
valores pedagógicos que são a prática, a oportunidade e a socialização. E se
não existe o conjunto dos indivíduos envolvidos, preocupados, cientes e
pacientes sobre as decisões que determinarão o rumo de seus trabalhos e de toda
a instituição, então a transformação que se busca, por se tratar de uma escola,
é uma regressão que se determina: não há futuro, impera uma nostalgia.
Vide nossa expansão
institucional. Em poucos anos estamos com mais de vinte unidades espalhadas
pelo Estado. Se nossos objetivos são proporcionar uma educação integral, a
verticalização do ensino, a indissociabilidade do ensino, da extensão e da
pesquisa e desenvolver as atividades relacionadas, em um mínimo, com as
potencialidades dos locais, então tal expansão deveria ocorrer com referências
para que os objetivos fossem possíveis. E o que se faz? Toma-se o PRONATEC
(repudiado nacionalmente pelo CONIF e pelo SINASEFE – organismos coletivos onde
os temas são deveras debatidos), faz-se qualquer acordo político com prefeituras
e planta-se uma bandeira. A partir disso, e somente depois disso, “pensa-se” o
que se fará por lá, com a bandeira. Isso, ao que parece, é o de menos; o que
importa é marcar a territorialidade.
E vocês, como estão em seus campi
em relação às necessidades de pessoal? Como estão os desenvolvimentos de seus
projetos de ensino, extensão e pesquisa? Laboratórios? Materiais? Palmas poderia
ser um exemplo mais que emblemático, paradigmático. Enquanto faltam professores
por lá, existem professores dispostos em lugares onde o que existe é,
solitariamente, a bandeira do IFPR: são os mastros a sustentar, não a
instituição, mas algum acordo político. Mais paradigmático, ainda, é ler, sem
qualquer análise, nos Planejamentos Estratégicos dos campi expostos no autoral PDI-2014-2018,
e ainda, final de 2014, inexistente oficialmente.
Uma lida rápida e você verá que
falta o básico, em se tratando de planejamento, o que torna o PDI uma grande
alegoria de indivíduos dissociados de uma realidade tangível, possível. Em
outras palavras, o PDI e, essencialmente, seus Planejamentos Estratégicos, de
cada campi, são nada mais que sonhos, aspirações, literalmente: desejos de
consumo. Isso significa, a grosso modo, o sonambulismo institucional
proporcionado a partir de uma reitoria autoritária, concentradora e ineficiente.
O que falta de básico? O óbvio, o cristalino: o recurso financeiro necessário, ainda
que por estimativa, para a consecução daqueles objetivos. E, sobre isso, o “volume”
de recursos humanos que o Governo Federal deverá nos conceder a partir destes
sonhos todos. Sem isso, sem a “fonte” e sem as mãos, como se darão as ações? E apenas com este vistaço, salta aos olhos a quantidade enorme de recursos que, tão somente um IF, "necessita" para realizar seu sonho. E se o PRONATEC é o foco da Dilma, enquanto política de Estado a se perder de vista... haja prefeituras!
A coisa é tão estapafalhada que é
notória a composição do documento como um arrazoado de individualidades sem qualquer
noção de conjunto; ou seja, o que se tem não é um IFPR, mas tantos quanto são
seus campi. Indivíduos que navegam a esmo, presos a uma ansiedade de unidade. Imagem
que nos permite relacionar, o nosso espetáculo institucional, a um teatro de
marionetes: existem mãos que sustentam os personagens, e exercem também o
desejo de suas vozes. Quer ver? Tomemos o “Diagnóstico Institucional – SWOT”,
proposto no PDI.
São considerados pontos fortes do
IFPR, por aqueles que gerenciam as coisas: a) gestão participativa e
compartilhada e b) normativas amplamente discutidas. Retomemos as perguntas do
início do texto. Ou melhor, vejam que, como puro cinismo, tais colocações “fortes”
são dadas em um documento no qual não houve, nunca, um chamado público para que
fosse discutido publicamente. Aliás, sequer houve um cronograma público para a elaboração
do mesmo e (talvez se não fosse a Sinapse e as suspeitas fortíssimas de crimes...),
paranóia, o documento sequer existe oficialmente, sendo ele mesmo algo que
deveria referenciar as ações institucionais a partir deste ano, que já acabou.
Ou seja, nascerá póstumo! E vocês tem dúvidas quanto aos demais documentos
institucionais, com “ampla discussão” pela comunidade? Nem gestão participativa e compartilhada,
jamais discussão ampla. Uma falácia cínica.
E isso fica translúcido com os
pontos fracos, relacionados logo na sequência: a) pouca experiência em gestão
pública; b) falta de conhecimento das políticas do IFPR; c) falta de
conhecimento sobre planejamento e distribuição orçamentária; e d) necessidade
da definição de diretrizes e metas do IFPR. (Estes são alguns, mas vale a pena
ler todos os pontos francos relacionados, que é, singularmente falando, tudo!
Leiam.) Ora, se há “pouca experiência em gestão”, porque o autoritarismo? Se há
“falta de conhecimento”, porque não se difunde, não se compartilha, não se
abrem as discussões para que as pessoas fundem um conheciemnto a partir dos
reconhecimentos existentes? Por fim, se não há definição de diretrizes e metas,
não há gestão e tudo se explica: é, novamente, um teatro de marionetes.
Controle sobre os gestos e vozes, em nome do poder (o enredo encenado).
Essa é a perspectiva consolidada
no “ameaças ao IFPR”, na mesma sequência deste diagnóstico institucional.
Acompanhem e esbocem um raciocínio a respeito destas ameaças: a) Determinação
externa de implantação e ampliação de programas e unidades sem planejamento
prévio; b) Indefinições das responsabilidades que norteiam as relações
estratégicas interinstitucionais; e c) Entraves políticos nas parcerias
municipais. Vejam que com os “pontos fortes” se demonstrou o autoritarismo e
com os “pontos fracos” se demonstrou que não há gestão. Agora, com as “ameaças”
se chega ao óbvio: não há rumo, não existe a responsabilidade e dependemos
piamente dos acordos políticos municipais. Como construir uma identidade
institucional?
Não se trata de má intenção, é
uma visão possível e efetiva de nossa realidade, transcrita pelos próprios apologistas.
É tão real que não escapa sequer de uma ocultação, tentada, mas não cumprida,
em um dos principais documentos institucionais do IFPR: o Plano de Desenvolvimento
Institucional. É aqui, contrariamente a seus objetivos legais, onde se narra o
roteiro deste conto de fadas trágico, representados por marionetes, sobre uma
mão pesada que dizia: “novos campi, apenas com enxoval completo; comigo, novos
rumos”, como a dizer, “aqui não haverá politicagem, a instituição é pública e
coletiva, nós temos objetivos e responsabilidades, temos princípios e nosso
caminho é aquele em que o coletivo decide se direcionar”. Como se vê, a
realidade e a ficção combinam-se sempre. Hoje é a ficção e a ilusão que nos
impera.
Devemos romper com isto. O PDI é
uma farsa e uma ofensa, não é nosso, não tem fundamento, não tem objetividade
social, não nos identifica. Tal PDI é a imagem de uma instituição que não
queremos, sem um futuro que nos represente, sem um presente que nos legitime
perante a sociedade que servimos.
Por fim, um resumo: o PDI, com
PPI incluso, é inconseqüente; assemelha-se a um glossário, muito mal escrito, e
nada mais que isso; não desenvolve qualquer direcionamento efetivo e realístico;
inútil sua verossimilhança com a sociedade que institui o IFPR; não tem
qualquer outra serventia que 1°) fazer uma propaganda política sobre a expansão
sem “enxoval” (as figuras com imagens de satélites onde constam, em coloridos
quadradinhos, os futuros campi são a excelência deste objetivo -- uma caricatura fielmente grotesca do que é nossa "realidade": imaginação a partir de fotos do google com tratamento 'Paintbrush') e 2°) mostrar a
incapacidade da ge-i-stão de se dividir (multiplicando) poderes,
responsabilidades e ações. E por “saberem” tudo, tem-se o que se tem: confusão
e confusões, ilusão e desilusões. Lema da excelência desta gestão e nossa atual
condição, enquanto uma instituição unívoca: “novos rumos, velhos destinos,
arcaicos métodos”. A promessa do enxoval completo em um casamento que surgiu para a divisão.