Da temática
Há
muito tempo esperava ver e sentir esta integração dos indivíduos do IFPR para
uma discussão das questões do seu dia-a-dia, em seu trabalho e nas condições
para o desenvolvimento do mesmo. Esta Greve de 2012 pode e deve ser
considerada, ainda que em fase de germinação, um marco institucional. Para
tanto, deve cumprir seu princípio e promover a sua objetivação, realizar o que
é seu por fundamento: a politização dos atos e dos fatos, o (re)conhecimento da
ideia política pelos indivíduos, do contexto político pelas classes e do enredo
da política pela instituição.
A
política é o céu e o inferno, sem deixar de passar pelo limbo, de nosso
ambiente de trabalho. Ela está em todas as condições de nosso cotidiano e é a
determinante para qualquer que seja o significado da sigla IFPR em seu passado,
presente ou futuro. A política, queira-se sim, queira-se não, nos circunda e
nos penetra, como o nitrogênio no ar que respiramos: está sempre presente. A
diferença está em que este, em certo volume, causa intoxicação e gera euforia e
alucinação[1];
enquanto que a política..., bem, a política idem!
Assim
sendo, não se deve temer a política, nem sequer buscar um manual para saber
como tratá-la ou portar-se ante sua realidade. A política, por sua
característica natural e sua forma social, naturalmente se desvela no convívio
do dia-a-dia; e, para que seja compreendida, basta com que se dê a devida
atenção por ela requerida. Mas diferente do ar e o nitrogênio, ela não tem
peso: é própria do ser humano em sua condição social. Vem daí sua semelhança
para com a Imaginação, assim disposta por H. Arendt:
Distinta
da fantasia que sonha algo, a imaginação se interessa pela escuridão específica
do coração humano e pela peculiar densidade que cerca tudo o que é real. Sempre
que falamos na “natureza” ou na “essência” de algo estamos em realidade nos
referindo a esse núcleo interior de cuja existência jamais pode ter tanta
certeza quanto temos da escuridão e da densidade. A verdadeira compreensão não
se cansa jamais do diálogo interminável e de “círculos viciosos”, pois acredita
que a imaginação vai acabar conseguindo ter ao menos um vislumbre da sempre
assustadora luz da verdade. Distinguir a imaginação da fantasia e mobilizar seu
poder não significa tornar “irracional” a compreensão dos assuntos humanos.
Hannah Arendt . "Compreensão e política" in A dignidade da política.
Hannah Arendt . "Compreensão e política" in A dignidade da política.
É
hora, portanto, de abrirmos o diálogo de forma política sobre a política no
IFPR. É hora de buscarmos a verdadeira compreensão, realizarmos o “diálogo interminável e de ‘círculos
viciosos’”, mobilizarmos a imaginação para conseguir “ter ao menos um vislumbre da sempre assustadora luz da verdade” e
tornar racional a constituição de nossos assuntos institucionais.
Do objeto
A
conversa, naturalmente, não pode ter outro início senão o Sindiedutec-PR. É por
ele que se abre o diálogo. A razão disso, se não óbvia, se dá por dois motivos:
1) o papel de um sindicato ante a coletividade que representa; 2) o embate
entre representatividade sindical.
Poder-se-iria
argumentar: mas se a questão é sobre a política no IFPR, porque não iniciar
pelo próprio significado do mesmo, o de uma Autarquia Pública Federal, e das
relações e condições de sua Administração? Esta questão, pertinente e importante,
conduz a um “círculo vicioso”, de
onde se verá que o tema do sindicato, por sua importância política singular, se
disporá frequentemente como uma “origem” para a discussão.
A
Administração, seja CONSUP, seja a Reitoria, não apenas foi eleita como nossos
representantes de maneira legítima, como tem feito seu trabalho de igual modo:
campus e cursos são abertos e regulamentados, a pesquisa e a extensão são
incentivadas, os planos de gestão de pessoas ocorrem, as normas vêm sendo
criadas (mais ou menos) sistematicamente, etc. Suas ações ou a forma com que se
realizam estas ações não podem ser questionadas por simplificações, ou por
implicância, e de modo individualizado. Os questionamentos, quando pertinentes,
são próprios da motivação à política e devem ser movidos para um debate político,
entre representantes e representados. Eis, então, que se nos pinta o “círculo vicioso”: o questionamento à
Administração ou a sua forma de ação é uma questão direcionada aos
representantes lá dispostos de maneira eletiva e requer, para que tenha
fundamentação, uma proposição das próprias pessoas que os elegeram. Para tanto,
estas pessoas se organizam, ou se aderem, em uma associação sem fins lucrativos
para promover a união e a discussão, para defender e lutar por suas questões
comuns. Enfim, “surge” o sindicato. Sua necessidade pode ser melhor
compreendida através do próprio Estatuto do Sindiedutec-PR:
“Art. 1º O
Sindiedutec-PR é constituído para os fins de
coordenação, defesa e representação legal dos trabalhadores lotados em
Instituições Públicas Federais de Ensino de Educação Básica Técnica e
Tecnológica do Estado do Paraná.”
Ainda
que não satisfatória para uma definição de sindicato, esta finalidade
estatutária determina o escopo e a importância de sua atuação: coordenar,
defender e representar legalmente os indivíduos daquela coletividade. Dito de
outra maneira, os indivíduos que formam uma coletividade institucional pagam e
sustentam a um sindicato para que o mesmo os represente em questões relacionadas
a seu ambiente e condições de trabalho. Podemos dizer, ainda, que há uma
necessidade deste custo financeiro ao trabalhador para que o mesmo sinta-se seguro
diante daquelas questões enquanto foca o dispêndio de suas energias no desenvolvimento de
seu trabalho específico, individual. Ou seja, os trabalhadores se associam,
geram e sustentam uma entidade civil para realizarem e gozarem, de maneira mais efetiva e otimizada, de serviços que
lhes são comuns. A especificidade é que não o fazem para obter planos de saúde,
quadras esportivas ou piscinas, festas juninas ou jantares. O sindicato é
constituído para o fomento e o desenvolvimento de debates e análises políticas
e jurídicas necessárias na defesa e na luta, política e judicial, dos direitos
e deveres de ambas as partes relacionadas nos contratos de trabalhos. É isso
que significa “coordenação, defesa e representação legal”.
Da história
Antes
de entrar nos objetivos desta “comunicação”, especifico a minha participação
junto ao Sindiedutec-PR e como se deu minha saída do mesmo. Vários destes
pontos já estão aqui, dispersos no blog. O que desejo mostrar é que não saí por
omissão e não me apresento com covardia: os debates são e devem ser públicos,
tanto quanto nossos questionamentos e o desenvolvimento de suas propostas. Não tenho me indisposto para realizar ou participar dos debates necessários e
fundamentais. Sei que, no fim, tudo isto que escrevo aqui é como um testamento;
de algo que , pelo menos, me há servido para revelar minha voz e as questões instituto sindicais de maneira pública e em seu tempo. Os textos possuem data e elementos específicos; os
argumentos foram gerados a partir de minha vivência e não possuem qualquer
leviandade. Os interessados e, por ventura, ofendidos, têm toda a oportunidade
e disponibilidade para a contestação ou o contra argumento, além da sempre
importante boa disposição para sentarmos e conversarmos pessoalmente.
Mais
do que reconheço a ignorância que possuo nos mais diversos temas, humanos,
científicos, específicos e tautológicos. Assim se dá, e o permito, porque tenho
a ignorância proporcional a minha curiosidade: ambas se dão lado a lado, frente
a frente, mescladas. Natureza do e para o aprendizado, tal qual é a vivência
comum, insaciável por compreensão. Não há registro, certificado ou diploma que
nos dê este conhecimento: o de que a vida requer compreensão e que esta
compreensão é (necessária) sem fim e sem pausa, sem espaço e sem tempo: pois ilimitada. Como a
mais singular das necessidades físicas, o compreender é o sustento da alma, tal
qual a imaginação. Ninguém terá argumentos para me julgar por omissão
desta busca e destas perspectivas durante meu tempo no Sindiedutec-PR, nem
tampouco em relação ao IFPR, pois minha ignorância, meus desconhecimentos,
jamais me paralisaram. E é para o debate público e social que nos dispomos
enquanto Educadores e Servidores Públicos.
As
eleições para os representantes da comunidade do IFPR no CONSUP deveriam ter
ocorrido no primeiro trimestre de 2011. Sobre a importância única do CONSUP
para a instituição como um todo acredito não ser necessário explicar. Naquela
época, eu ainda ornamentava uma diretoria no Sindiedutec-PR. Diferentemente de
um vegetal, eu me movia. Pessoas no meu entorno, que fazem parte de meu
cotidiano laboral, sabem o desespero que me foi tomando quando da ausência de
uma discussão e da cobrança efetiva, jurídica, se fosse necessária, para que
estas eleições ocorressem. Isso era, como óbvio, um princípio a ser fomentado a
partir do sindicato, pois o mesmo existia, era sustentado pelos servidores,
etc. De minha parte, com todo o respeito, ninguém poderá contestar. Eu insistia
e cobrava do Presidente do Sindiedutec-PR; dizia a ele que o sindicato não
apenas deve defender os sujeitos em si, mas a instituição enquanto tal, e que a
postergação daquelas eleições eram desnecessárias, imorais e ilegais.
Lembrem-se, o CONSUP é o órgão máximo; e nós estávamos realizando ou recém
terminávamos um processo eletivo para o cargo de Reitor, inferior ao CONSUP...
Em
determinado momento, a aflição se me atirava à incredulidade. Eu fazia “cálculos”
para entender o contexto político da não realização daquelas eleições (uma
questão interessante, aparente, vem do temor da hegemonia quando do
‘aparecimento’, nas eleições para Reitor, de uma “oposição”) e chegava sempre
ao mesmo resultado: o Sindiedutec-PR, uma aparente variável independente, era,
na realidade, a constante que gerava o silêncio tedioso. Passou-se o ano
postergando estas eleições, realizadas somente após a aprovação de uma segunda
edição do Estatuto (se o CONSUP é o órgão máximo dentro da instituição, o
Estatuto é o documento idem) e sem que o Sindiedutec-PR manifestasse um agravo,
um piu público que fosse, um sopro de
conversa. Não se viu nada do Sindiedutec-PR no sentido de uma coordenação e
defesa dos direitos de seus “associados”, pois que parecia claro um atentado
sobre aquele órgão de decisão, composto por seus “representados”.
Em
dois de julho daquele ano, aquele Presidente do sindicato me escreve de modo
particular para dizer algo que deveria ser público por natureza, seja por ética,
seja por disposição de nossas condições, de diretores sindicais. Diz assim:
Recebi
da Secretaria dos Conselho Superior o "convite" para a reunião do
Conselho Superior para a próxima sexta-feira. Um dos itens da pauta é
"Apresentação da Proposta de Reestruturação Administrativa". Não sei
exatamente o que isto significa mas o reitor eleio disse-me que entre as
alterações estaria a alteração da representatividade no Conselho Superior do
Instituto. Não sei se isto estará na pauta agora mas creio que se estiver
chegará no dia com o encaminhamento já definido. Estou tentando levantar se
isto ocorrerá e se possível, apresentar a reivindicação da participação do
Sindicato com DIREITO A VOZ E VOTO.
Ao
que, segue minha resposta-desabafo, também de modo “particular”:
Como
lhe disse, eu não tenho me sentido muito bem aqui, em parte por não entender em
absoluto a forma com que se dão estas mudanças ("Apresentação da Proposta
de Reestruturação Administrativa") e, sobretudo, porque o público é demais
cativo para que se debatam as questões de forma aberta e franca. Em relação ao
primeiro, lhe pergunto: não parece algo bem desproposital fazer uma
apresentação de proposta quando já se tem tudo reestruturado? Ora, o CONSUP e
"nossa" administração nunca tiveram ali dentro uma voz que os
argumentasse, ou que fizesse alguma contraposição, por mais leve, menor,
singular que fosse. Não fosse assim, imagino eu que as ações seriam bem mais
claras e transparentes: por exemplo, entro no site do CONSUP e busco as atas de
suas reuniões; cadê? Só há duas atas: uma sobre a Folha Ponto e a outra sobre
as eleições para Reitor. E isso depois de dois anos e meio de IFPR; quantas
reuniões houve? O que eles fazem, discutem, decidem por lá? Como?(...) Quanto
ao tema do público cativo, silencioso, "satisfeito", é óbvio que uma
coisa leva à outra. Como não é dado às pessoas comuns o mínimo do prazer para
estar pelo menos sabendo as formalizações do ifpr, ninguém sabe nada, tem nada,
fala nada, discute nada.
No
dia onze de julho do mesmo ano, ou seja, menos de duas semanas depois, as Atas
das reuniões do CONSUP apareceram no site da instituição. Chamo a atenção para
elas e peço especial atenção para as dos dias um de abril e oito de julho. Na
primeira, onde se vê o processo para a realização das eleições do CONSUP sendo
procrastinado (lembro, não há nenhuma explicação razoável para este fato, já
que realizamos eleições para Reitor sem qualquer problema); na segunda, onde se
lê o nome do Presidente do Sindiedutec-PR, cativo. Em ambas, o nível das
discussões no CONSUP, e cada qual interprete como queira.
Estas
duas Atas mostram, cremos, que é inegável que as eleições para aquele órgão foram
postergadas de modo a favorecer politicamente alguma estratégia; e é inegável
que o Sindiedutec-PR estava a par disso, senão por devoção. Não há de ter um único sindicato
razoável, gostaria de crer, que não formalizaria sequer uma nota de repúdio ao
que estava ocorrendo. Apenas o Sindiedutec-PR, em nome e responsabilidade de
seu presidente, e, talvez, há de se estudar, o PROIFES faria deste modo silencioso uma cobertura sobre os direitos e deveres dos sindicalizados. E digo isso porque eu,
como servidor, como filiado pagador e como diretor ornamental do sindicato,
cobrava e exigia daquele presidente uma postura ao sindicato como deve sê-lo.
Hoje,
não apenas o IFPR tem a segunda versão de seu estatuto; inclusive o estatuto
daquele sindicato mudou sua versão. Ainda assim, possuem dispositivos que
chamam a atenção, tanto daquela versão anterior quanto agora. Considerem que é o Estatuto do IFPR que diz sobre as eleições para o CONSUP, prevaricadas
naquelas reuniões; considerem que é a lei do IFPR, onde se diz a respeito dos
direitos e deveres dos servidores, que estava sendo violentada; considerem, agora, o que diz o estatuto
do Sindiedutec-PR:
Art.
34 Compete ao Presidente:
I
– Representar o Sindicato dos Trabalhadores da Educação Básica Técnica e
Tecnológica do Estado do Paraná nos interesses da categoria(...).
Art.
7o Serão
desligados do Sindicato dos Trabalhadores da Educação Básica Técnica e
Tecnológica do Estado do Paraná os sindicalizados que:
(...)III
- comprovadamente trabalhar em prejuízo da SINDIEDUTEC-PR ou praticar atos
incompatíveis com as disposições estatutárias e com os deveres dos sindicalizados.
Já
mencionei a falta de caráter do mesmo Presidente em citação de e-mail
direcionado a toda a diretoria do Sindiedutec-PR na época. Este e-mail,
inclusive, faz “saia justa” ao Reitor do IFPR; e quero pedir desculpas ao mesmo
porque sei que ele não tem culpa ou
responsabilidade por aquilo. O conteúdo do e-mail é incompatível com o ambiente
público, com a ética comum e ordinária e com o compromisso daquele Presidente
para com o sindicato e todos os servidores da instituição. É gravíssimo, e
revela o que seria uma personalidade...! Eu já não tinha como, frente a estas
questões, ao que se apresentava e da forma como eram conduzidas as ações,
permanecer naquele sindicato. A mudança não apenas era legítima, como
fundamental em seu princípio. Eu não deixava o Sindiedutec-PR de outra forma
que não para promover, a partir de uma concepção política distinta e uma
atitude ética tranquila, o debate fundamental.
A
questão para caracterizar minha atitude era a de que ele era o idealizador (com
méritos discutíveis, para tanto) e fundador daquela instituição sindical; de
que esta estava sob uma manta de “aforismos” que distanciava os próprios
filiados de uma compreensão do papel do sindicato e dos direitos e deveres dos
servidores. Era algo típico do que se diz por “alienação”, mesmo este sendo um
termo muito forte para o que aquelas condições representavam. O que quero dizer é que a
procrastinação das eleições para o CONSUP tiveram, sim, no presidente do
Sindiedtuec-PR um grande “legitimador” do ato; mas não apenas isso: a ausência
dos documentos institucionais básicos e, sobretudo, a inexistência de um debate
em torno destes documentos é o grande papel cumprido por aquela pessoa e a
direção do sindicato criado. As pessoas pagam para que o sindicato faça algo,
mobilize e proponha uma ação em torno de seus direitos e deveres. Pois a base
para que os direitos e deveres sejam reconhecidos, pelos indivíduos, dentro de
uma instituição socialmente constituída, são seus documentos regimentais, suas
normas instituídas, de onde o Estatuto é o “guia”. Sem estes documentos, é uma
espécie de desorganização o que orienta a organização; a “máquina” fica como
que desgovernada, porque seus maquinistas e passageiros não possuem ordem, agem sem “ritmo”, desconhecem o "rumo".
Esta condição, satisfeita pela política (vide Gramsci, abaixo), não tem qualquer relação com um
ambiente socialmente constituído para uma relação democrática, ou um ambiente científico, a partir da Administração.
O Presente
Há
dois outros pontos que devem ser levantados. Um é sobre o PROIFES, que não
entrarei no mérito conceitual; outro é sobre os técnicos, enquanto categoria.
Ambos estes temas se relacionam. Primeiro porque é quase cômico um sindicato
que aglutina em sua base classes diferentes realizar um tratamento tão
disparatado entre estas classes; e segundo porque permite interessantes
coincidências.
Como
disse, a questão do mérito conceitual sobre o PROIFES não me importa, de
momento, sobretudo por que é de se imaginar que a base de professores
representada pelo Sindiedutec-PR tenha realizado reuniões para discutir e votar
sua melhor escolha para a filiação a uma Federação sindical. Em caso contrário,
deveriam partir daí qualquer discussão fundamentada, pois as relações sociais
deste tipo, entre entidades sindicais, é como uma coligação partidária e dizem
muito de per si. O que quero chamar a atenção diz respeito à ausência e demora
para que o mesmo sindicato discutisse e agisse em torno de uma filiação a uma
federação dos e para os TAE. Digo isso porque também esta discussão era
levantada por mim junto ao presidente, enquanto por lá estive. E esta foi outra
gota de pesar e tristeza, pois a resposta soa como se fora eu o Fausto (Goethe)
ouvindo sugestões: “Para realizarmos
nossa filiação a uma federação, preciso que você levante os nomes e os partidos
políticos que estão na direção da FASUBRA. Blá-blá-blá...”. Ficava claro, com
estes ditos, muitas das posições e ações tomadas pelo Sindiedutec-PR sob sua
presidência, pois não só o silêncio age politicamente, como a conveniência
partidária, dele e seu sindicato, é objeto de a-discussão comunitária. Digo
isso também porque é quase “esquisito” o Sindiedutec-PR não possuir a SINASEFE
como entidade federada, já que é a federação que representa o maior números
dos Institutos Federais do país, e o faz à semelhança do Sindiedutec-PR,
agregando Professores e TAE na mesma entidade jurídica, a sua base.
Portanto,
a questão do PROIFES é imprescindível para os filiados daquele sindicato, e não
apenas tema para os professores. Uma postura como a do presidente, que corre de
partidos políticos diferentes do seu, que teme movimentos sindicais divergentes
de suas “propostas”, arrasta consigo toda esta comunidade que se sente
representada, pelo menos no papel.
Tal
postura, do presidente, transpareceu recentemente e de maneira vergonhosa para
os TAE. No dia quatro de julho deste ano, 2012, os TAE (Curitiba) do IFPR
realizavam uma reunião com este presidente sindical. A Ata, produzida pelos
TAE, e que pode ser legitimamente contestada, relata mais ou menos assim:
- Início com o relato de seu presidente sobre as dificuldades que o Sindiedutec-PR tem enfrentado na administração da greve, pela inexperiência, pela pouca colaboração e participação dos envolvidos.
- Intervenção de um TAE sobre as pessoas que fazem greve de pijama, justificando que as mesmas assim o fazem por falta de esclarecimentos sobre o movimento grevista e suas reivindicações, sobre a importância da participação em assembleias e atividades durante o movimento, bem como pela falta de divulgação destas atividades, cuja responsabilidade é do sindicato e que o mesmo não tem como argumentar dificuldades, pois para se divulgar, basta com que se façam cartazes e panfletos, por exemplo.
- Intervenção de outro TAE reclamando da sensação de exclusão dessa classe perante o Sindiedutec-PR a partir dos fatos ocorridos em 26 de junho. Disse ainda que naquela data havia sido definida uma assembleia para este dia, quatro de julho, mas que a mesma não se dava, sem que os TAE soubessem por quais razões. Por fim, mencionou sobre o desejo de manter o apoio de ambos os sindicatos da categoria em Curitiba, Sinditest e Sindiedutec-PR, para o movimento de greve, mas que não gostaria de presenciar brigas ou discussões que de nada serviam para fortalecer o movimento.
- O presidente do Sindiedutec-PR retomou a palavra reafirmando os problemas na administração da greve e afirmando que não faria nenhuma atividade em conjunto com o Sinditest. Ao início de sua fala sobre algum contexto político maior que envolveria uma disputa de bases e, quando iria comentar sobre o ocorrido no dia 26, interrompeu a fala e quis negar acento a um TAE que é diretor no Sinditest. Disse que não ficaria ali com aquela pessoa, apesar do pedido dos demais presentes para que permanecesse, e foi embora.
Curioso
é, novamente, repararmos no que diz o Estatuto do Sindiedutec-PR:
Art. 2º. O
Sindicato dos Trabalhadores da Educação Básica Técnica e Tecnológica do Estado
do Paraná tem por finalidades,
prerrogativas e objetivos:
II – Defender,
intransigentemente e por princípio, o direito à divergência e o respeito a
diferenças de idéias e opiniões;
III
– Promover interlocução permanente
com a sociedade política e civil, com as pertinentes associações e organizações
profissionais, científicas, institucionais e sindicais, discutindo com os diversos atores sociais, entre outras
questões e principalmente, a importância da produção e da difusão do
conhecimento, bem como a formação de profissionais de ensino técnico e
superior, portando-se como defensor da educação pública, gratuita e de
qualidade, especialmente nas Instituições de Ensino Técnico e Tecnológico;
Ou
seja: ou ele se considera o próprio sindicato, e age como quer, ignorando o
próprio sindicalismo estatutário e a comunidade sindical; ou ele não sabe por que
e por quem o sindicato se constitui, mantendo suas opiniões e partidarismo como
um padrão a ser seguido e acatado por todos. Ora, se as normas e os objetivos
do próprio sindicato lhe passam ao longe, o que dizer sobre suas posturas ante
os sindicalizados e à atuação do sindicato perante a instituição que lhe serve
de base sindical?!Sem respeito às normas, sem ética ao público, sem conteúdo aos argumentos: um vazio, uma nulidade.
O Futuro
Fica
claro, é de se crer, que se há o desejo de se criar e manter um sindicato
sério, que realmente realize aquilo a que se propõe enquanto sindicato, e conforme seu estatuto, então, é necessário, desde já, reavaliar os comportamentos e as decisões dadas pelo Sindiedutec-PR. Em não se fazendo isso, aceita-se que este Sindiedutec-PR por si é demagógico, autoritário e antidemocrático, o
que lhe dá uma condição de incapacidade natural para a defesa e
representatividade perante aqueles que se constituem socialmente de modo democrático, como é no
IFPR.
Argumentos
de que eu, com o que aqui escrevi e escrevo, fujo da participação e da
discussão para agir sorrateiramente, de maneira raivosa e vingativa,
menosprezam a qualidade das pessoas, de compreensão, e suas liberdades
fundamentais, de conhecimento e liberdade de escolha.
Argumentos
de que o Sinditest está “contaminado” por partidos políticos, que são
especialmente opositores ao partido que, não por coincidência, é o do
presidente do Sindiedutec-PR, e que aquele “briga”, como pastor, por uma base
de ovelhas que não conseguem decidir por suas próprias convicções é, novamente,
menosprezar as pessoas e desqualificar os debates de forma leviana, porque por
fuga de responsabilidade.
Argumentos
de que o Sindiedutec-PR é o ente legalmente constituído para representar aos
servidores do IFPR, e usados em atitude coercitiva, como se as pessoas lhe
devessem obediência, a partir de um documento e uma atitude legalista, é... (por
favor!!!). Não há de ter plebiscito que
o legitime, ao Sindiedutec-PR, quando nem para uma reunião o mesmo não se abre
para a discussão pública, dando as costas as pessoas que estão a sua frente!! Quer-se discutir juridicamente? É aí seu território político, sua base de argumentação?
Argumentos
vazios como estes jamais responderão e resolverão o problema “estrutural-ideológico” do
Sindiedutec-PR, talvez um problema apenas de “pé direito”[2], onde
o pavimento e o teto se mesclam, por distanciamento nulo, inibindo o corpo e reduzindo-o à sombra, sem volume.
Nem
minha pessoa, nem o Sinditest são os responsáveis pela contestação ao
Sindiedutec-PR: o grande repelente desta associação é a própria postura
assumida pelo sindicato, caracteristicamente dada pela pessoa de seu
presidente. As pessoas não são ovelhas e não gostam de ser tratadas como
estúpidas; ao primeiro sentimento de desprezo, ausentam-se naturalmente. Grande
parte da falta de desorganização e adesão, seja ao movimento grevista, seja nas
ações sindicais, é cristalina como o colírio: deem motivos para as pessoas
discutirem, deem razões para elas efetivamente se disporem a colaborarem, deem
olhos para suas vistas, e elas verão. E virão. É este o papel do sindicato e é
esta sua ausência, Sindiedutec-PR. As pessoas se disponibilizarão quando as
fantasias forem dissolvidas, e quando a imaginação recobrar seu lugar para
mobilizar a compreensão dos assuntos humanos.
É
por isso que esta greve é a possibilidade de ser considerada um marco
institucional. Os TAE tomaram posição e estão se constituindo, enquanto
unidade, e se instruindo para agirem coerentemente, de maneira legítima,
democrática e fundamentada. Os TAE reconhecem a importância e acreditam e
buscam interlocução com os professores. Os TAE assumem que o Sinditest é uma
força para um apoio importante, ademais de lhes ser um direito líquido, para
dizer um jargão legalista que o Sindiedutec-PR quer fazer uso, a relação de
colaboração efetiva. Os TAE entendem, e por isso cobram, que a diretoria do
Sindiedutec-PR tem uma responsabilidade ímpar; e que a legitimidade desta
responsabilidade é, por tudo o que aqui está dito, e é documentado, contestada
enquanto a postura e as condições dadas por seu presidente não forem
esclarecidas de modo público e satisfatório.
Proposta
de estudo: esta desunião entre as classes, estes conflitos disparatados entre
os indivíduos, a ausência de discussões transparentes e sérias, institucionais
e sindicais, enfim, quem se beneficia quando os sindicalizados e os servidores
públicos não se entendem e os mesmos não realizam uma só análise crítica de si
mesmo, enquanto autarquia e enquanto sindicato? Devemos ter claro: em política
nada é realizado sem intencionalidade. Os fatos estão aí e as posturas estão
dispostas: o que nos falta é uma imaginação orientadora, tal qual a mencionada
por Arendt, para nos livrarmos das fantasias nos argumentos e ações daquele
presidente sindical. Minha experiência mostra, simplificadamente, que ele tem
gerado a cizânia e os silêncios vertiginosos que cobrem a nossa comunidade,
fazendo de nossas condições um gelo, imobilizado e frio, sobre o qual ele
patina. Veja-se, por um exemplo [científico], de argumento em Política, de Antonio Gramsci:
“Existem
dois tipos de políticos: os que lutam pela consolidação da
distância entre governantes e governados e os que lutam pela
superação desta distância.”
Desde
já, estou a disposição para esclarecimentos e discussões, para conversas informativas ou prestação de contas jurídico-políticas, à escolha da euforia do interlocutor. Nada contra o Sindiedutec-PR, mas para que se entenda algumas condições sindicais e o mesmo, caso deseja, se faça por Ser e não apenas por lei.