28 de nov. de 2014

“Novos rumos: só com enxoval completo”: o casamento que nos divide.

O PDI que não nos desenvolve e jamais nos representa.


Novos rumos, velhos destinos, arcaicos métodos. Você participou ou conhece alguém que tenha participado de algum grupo de discussão para se elaborar os planos de desenvolvimento institucional? Você já ouviu falar ou presenciou alguma reunião aberta, comunitária para se decidir sobre alguma expansão institucional? Você se lembra de ver algum edital, alguma convite ou convocatória para a discussão pública e comunitária dos passos institucionais rumo a algum futuro?

Nós (também) não. Nunca. Nada. E excluímos a proposição de que apenas o “consulta interna”, por email, seja suficiente para um ambiente democrático, pedagógico, científico e público: de verdade. E se não há nada disso, se não existem reuniões públicas, debates abertos, jogo franco e limpo no campo das idéias sociais pelos indivíduos que formam a instituição, então não existe um desenvolvimento institucional pautado nos valores que a lei preconiza para a instituição, não temos ética, eficiência, transparência. Mais do que isso, não cultivamos os verdadeiros valores pedagógicos que são a prática, a oportunidade e a socialização. E se não existe o conjunto dos indivíduos envolvidos, preocupados, cientes e pacientes sobre as decisões que determinarão o rumo de seus trabalhos e de toda a instituição, então a transformação que se busca, por se tratar de uma escola, é uma regressão que se determina: não há futuro, impera uma nostalgia.

Vide nossa expansão institucional. Em poucos anos estamos com mais de vinte unidades espalhadas pelo Estado. Se nossos objetivos são proporcionar uma educação integral, a verticalização do ensino, a indissociabilidade do ensino, da extensão e da pesquisa e desenvolver as atividades relacionadas, em um mínimo, com as potencialidades dos locais, então tal expansão deveria ocorrer com referências para que os objetivos fossem possíveis. E o que se faz? Toma-se o PRONATEC (repudiado nacionalmente pelo CONIF e pelo SINASEFE – organismos coletivos onde os temas são deveras debatidos), faz-se qualquer acordo político com prefeituras e planta-se uma bandeira. A partir disso, e somente depois disso, “pensa-se” o que se fará por lá, com a bandeira. Isso, ao que parece, é o de menos; o que importa é marcar a territorialidade.

E vocês, como estão em seus campi em relação às necessidades de pessoal? Como estão os desenvolvimentos de seus projetos de ensino, extensão e pesquisa? Laboratórios? Materiais? Palmas poderia ser um exemplo mais que emblemático, paradigmático. Enquanto faltam professores por lá, existem professores dispostos em lugares onde o que existe é, solitariamente, a bandeira do IFPR: são os mastros a sustentar, não a instituição, mas algum acordo político. Mais paradigmático, ainda, é ler, sem qualquer análise, nos Planejamentos Estratégicos dos campi expostos no autoral PDI-2014-2018, e ainda, final de 2014, inexistente oficialmente.

Uma lida rápida e você verá que falta o básico, em se tratando de planejamento, o que torna o PDI uma grande alegoria de indivíduos dissociados de uma realidade tangível, possível. Em outras palavras, o PDI e, essencialmente, seus Planejamentos Estratégicos, de cada campi, são nada mais que sonhos, aspirações, literalmente: desejos de consumo. Isso significa, a grosso modo, o sonambulismo institucional proporcionado a partir de uma reitoria autoritária, concentradora e ineficiente. O que falta de básico? O óbvio, o cristalino: o recurso financeiro necessário, ainda que por estimativa, para a consecução daqueles objetivos. E, sobre isso, o “volume” de recursos humanos que o Governo Federal deverá nos conceder a partir destes sonhos todos. Sem isso, sem a “fonte” e sem as mãos, como se darão as ações? E apenas com este vistaço, salta aos olhos a quantidade enorme de recursos que, tão somente um IF, "necessita" para realizar seu sonho. E se o PRONATEC é o foco da Dilma, enquanto política de Estado a se perder de vista... haja prefeituras!

A coisa é tão estapafalhada que é notória a composição do documento como um arrazoado de individualidades sem qualquer noção de conjunto; ou seja, o que se tem não é um IFPR, mas tantos quanto são seus campi. Indivíduos que navegam a esmo, presos a uma ansiedade de unidade. Imagem que nos permite relacionar, o nosso espetáculo institucional, a um teatro de marionetes: existem mãos que sustentam os personagens, e exercem também o desejo de suas vozes. Quer ver? Tomemos o “Diagnóstico Institucional – SWOT”, proposto no PDI.

São considerados pontos fortes do IFPR, por aqueles que gerenciam as coisas: a) gestão participativa e compartilhada e b) normativas amplamente discutidas. Retomemos as perguntas do início do texto. Ou melhor, vejam que, como puro cinismo, tais colocações “fortes” são dadas em um documento no qual não houve, nunca, um chamado público para que fosse discutido publicamente. Aliás, sequer houve um cronograma público para a elaboração do mesmo e (talvez se não fosse a Sinapse e as suspeitas fortíssimas de crimes...), paranóia, o documento sequer existe oficialmente, sendo ele mesmo algo que deveria referenciar as ações institucionais a partir deste ano, que já acabou. Ou seja, nascerá póstumo! E vocês tem dúvidas quanto aos demais documentos institucionais, com “ampla discussão” pela comunidade?  Nem gestão participativa e compartilhada, jamais discussão ampla. Uma falácia cínica.

E isso fica translúcido com os pontos fracos, relacionados logo na sequência: a) pouca experiência em gestão pública; b) falta de conhecimento das políticas do IFPR; c) falta de conhecimento sobre planejamento e distribuição orçamentária; e d) necessidade da definição de diretrizes e metas do IFPR. (Estes são alguns, mas vale a pena ler todos os pontos francos relacionados, que é, singularmente falando, tudo! Leiam.) Ora, se há “pouca experiência em gestão”, porque o autoritarismo? Se há “falta de conhecimento”, porque não se difunde, não se compartilha, não se abrem as discussões para que as pessoas fundem um conheciemnto a partir dos reconhecimentos existentes? Por fim, se não há definição de diretrizes e metas, não há gestão e tudo se explica: é, novamente, um teatro de marionetes. Controle sobre os gestos e vozes, em nome do poder (o enredo encenado).

Essa é a perspectiva consolidada no “ameaças ao IFPR”, na mesma sequência deste diagnóstico institucional. Acompanhem e esbocem um raciocínio a respeito destas ameaças: a) Determinação externa de implantação e ampliação de programas e unidades sem planejamento prévio; b) Indefinições das responsabilidades que norteiam as relações estratégicas interinstitucionais; e c) Entraves políticos nas parcerias municipais. Vejam que com os “pontos fortes” se demonstrou o autoritarismo e com os “pontos fracos” se demonstrou que não há gestão. Agora, com as “ameaças” se chega ao óbvio: não há rumo, não existe a responsabilidade e dependemos piamente dos acordos políticos municipais. Como construir uma identidade institucional?

Não se trata de má intenção, é uma visão possível e efetiva de nossa realidade, transcrita pelos próprios apologistas. É tão real que não escapa sequer de uma ocultação, tentada, mas não cumprida, em um dos principais documentos institucionais do IFPR: o Plano de Desenvolvimento Institucional. É aqui, contrariamente a seus objetivos legais, onde se narra o roteiro deste conto de fadas trágico, representados por marionetes, sobre uma mão pesada que dizia: “novos campi, apenas com enxoval completo; comigo, novos rumos”, como a dizer, “aqui não haverá politicagem, a instituição é pública e coletiva, nós temos objetivos e responsabilidades, temos princípios e nosso caminho é aquele em que o coletivo decide se direcionar”. Como se vê, a realidade e a ficção combinam-se sempre. Hoje é a ficção e a ilusão que nos impera.

Devemos romper com isto. O PDI é uma farsa e uma ofensa, não é nosso, não tem fundamento, não tem objetividade social, não nos identifica. Tal PDI é a imagem de uma instituição que não queremos, sem um futuro que nos represente, sem um presente que nos legitime perante a sociedade que servimos.


Por fim, um resumo: o PDI, com PPI incluso, é inconseqüente; assemelha-se a um glossário, muito mal escrito, e nada mais que isso; não desenvolve qualquer direcionamento efetivo e realístico; inútil sua verossimilhança com a sociedade que institui o IFPR; não tem qualquer outra serventia que 1°) fazer uma propaganda política sobre a expansão sem “enxoval” (as figuras com imagens de satélites onde constam, em coloridos quadradinhos, os futuros campi são a excelência deste objetivo -- uma caricatura fielmente grotesca do que é nossa "realidade": imaginação a partir de fotos do google com tratamento 'Paintbrush') e 2°) mostrar a incapacidade da ge-i-stão de se dividir (multiplicando) poderes, responsabilidades e ações. E por “saberem” tudo, tem-se o que se tem: confusão e confusões, ilusão e desilusões. Lema da excelência desta gestão e nossa atual condição, enquanto uma instituição unívoca: “novos rumos, velhos destinos, arcaicos métodos”. A promessa do enxoval completo em um casamento que surgiu para a divisão.