Em passagem pela reitoria, um
professor argui: “é verdade que os técnicos com fg fazem apenas seis horas de
trabalho?” Ao que o debate (diálogo) se inicia, realmente, após um suspiro: “sempre
isso...”.
Em andança pelo corredor, no
Campus, outro professor comenta: “cara, os técnicos são realmente uma categoria
danada. Ninguém vai ser louco de mexer (leia-se: assediar moralmente) com
professor. Já com técnicos, os caras não estão nem aí, é uma classe
descaracterizada e eles passam por cima mesmo.” Outro suspiro, a conversa segue
um pouco, mas, tanto naquela, como nesta, em nenhum momento não dispusemos o “vulto”.
A relação de se técnico com fg trabalha
seis horas, inegavelmente colocada não se sabe por que dono e em que movimento,
mas com intentos de se proporcionar uma cisão cristalina, e idiota, é idiota. Não
se trata de discussão, não se trata de “construtivismo”, não se trata de
qualquer debate ou embate produtivo. É idiota. Existe? É ilegal? Quem é o
chefe? É probatório (o dano)? Resolva-se administrativamente. Ponto.
Por outro lado, esta mesma
nulidade (idiotisse) carrega, e muito, a pobreza de nossas mais fundamentais desenvolturas.
De fato, ao se levantar o tema, dado como foi, fica obliterado a essência que
compromete (toda) nossa eficiência administrativa e funcional. Nada se fala a
respeito de responsabilidade, produtividade, eficiência, qualidade, competência,
planejamento, etc., estes conceitos todos que, extraídos de uma ciência, in-operam
na instituição e passam longe de qualquer diálogo comum entre a existência sócio-laboral
e o planejamento institucional. O que importa é o “privilégio” das seis horas,
e somente em relação aos TAEs. Somos científicos, uma instituição promotora da
ciência, mas a ciência de laboratório. Aquela do dia a dia, mesmo, aquela que
é, aparentemente, relegada aos TAEs, esta é a ciência pobre, medíocre, inútil
para nós.
Tudo isso não foi dito,
explicitamente. O que sim ficou revelado é que o debate idiota das seis horas
para quem tem fg me é, por mérito, relativizado ao silêncio. Era na reitoria;
era douto; possui cargo. E o que me impressiona – não é por desmerecer, eu
tenho solidariedade ao professor – o que me impressiona é que ao lado de seu
local de trabalho está a progepe. Não uma secretaria, nem uma seção, mas um
Pró-Reitoria de gestão de pessoas. E o que me comove é que, considerando o
Plano de Desenvolvimento Institucional que temos e conhecendo o Relatório de
Auditoria da CGU, sobre o IFPR, ainda estejamos (querendo) a discutir nossas
disposições com coisinhas tão restritas, justamente, às deficiências
gerenciais...
Ou seja, não se busca uma
discussão a respeito dos planos, metas, ações e responsabilidades, de nada,
para nada. Somos a obviedade por excelência, ao que parece. E de tão óbvios,
cristalinos, sapiens, agimos tão somente: sem rumo, sem prumo, sem relação. O
que nos impede, se é que algo nos trava, é que eventualmente, como se diz por
aí, técnicos com fg fazem rotinas de apenas seis horas. Isso é o grave.
Parece distante, mas de tão
próximo, a semana se tornou mais interessante. Os técnicos não apenas parecem
fazer seis horas quando não podem, legalmente, como são fáceis faces à
violência laboral moral. A questão, e a relação, não é pela cisão TAE com
Professor: entre eles e nós, um e outro, não há fronteiras nítidas, distinções
institucionais solúveis. Pelo contrário, ambos são, notadamente, insolúveis
artefatos de manipulação. O que nos difere é uma questão de método, mas a (in)discriminação
é a mesma, e o resultado é idêntico: alienamo-nos todos, alienam-nos efetivamente.
Sim, é claro, os TAEs recebem
métodos mais carnívoros (porque na carne, ainda que de efeito moral) para que
seu contingente seja mantido sobre um cerco de efetivo controle. Sempre existe,
em um ambiente como tal, aqueles, uns e outros, que se atrevem e saltam,
questionam e falam. São estes os merecedores de uma ação correcional, para o aprendizado e que sirva de modelo, ou para que
fique distante e aprenda a se calar, não perguntando, e calando em sintonia aos
demais. Outros métodos, menos doloridos, a princípio, mas com um custo Real relativamente
alto, são aplicados. Ainda que não deixem ressentimentos, fazem ser notável
equivalente.
Os professores, por outro lado,
ainda que não sejam vítimas de ostensivo cerceamento, não deixam de ser menos
controlados. É o jogo da obviedade, no fim, o único que nos difere, pura e
simplesmente. O controle professoral é estabelecido e notado, basicamente, por
uma “negligência”; e sucedido e sustentado por uma “liberdade”. De fato,
tome-se como exemplo o Plano Pedagógico Institucional e seu estruturante Plano
de Desenvolvimento Institucional. Quais e quantos professores concordam,
participam, refletem, se comprometem com aqueles panfletos turísticos a
políticos municipais e seus colaboradores deputados? Quando “os” Professores se
levantaram, se pronunciaram, proferiram as razões, disputaram a lucidez de uma
concepção, uma funcionalidade e um desenvolvimento institucional pautados sobre
alicerces seguros da comunhão científica e pedagógica?
Eu, nós, nunca o vimos. E entendemos
que, a partir disso, tanto quanto os TAEs, também os professores vivem sobre um
cerceamento restrito e monitorado. É verdade que, em termos de possibilidades,
seus horizontes parecem ser maiores, considerando que os Professores são livres
e respeitados, enquanto classe, mas apenas dentro da classe. Ou seja, a sala de
aula é o limite, a disciplina e o colegiado internalizados. Uma obviedade. Fora
de suas cercas, somos tão iguais...
A instituição não nos distingue: mal nos possibilita
de sua própria institucionalidade, somos óbvios e comuns. Discutimos os interstícios das 30 horas, mas não o que fundamenta sua razoabilidade e efetividade. Assistimos, em nosso panegírico silêncio, o visual assediamento, crendo-nos potentes em voz muda...
Segue...