12 de fev. de 2014

Ao recitador de Brecht

FRIEDRICH SCHILLER (1795-1805)



AS PALAVRAS DA FÉ

Há três palavras, plenas de sentido,
Que andam de boca em boca, e vos proponho:
Não as sei por saber, nem só de ouvido,
Só o coração delas dá testemunho:
A humanidade sem valores vai ficar,
Se a fé nas três palavras renegar.

Livres fomos criados, livres somos,
Ainda que em cadeias nascidos;
Não vos confunda a turba e seus assomos,
Nem os abusos de loucos furibundos:
Perante o escravo que quebra seus grilhões,
Perante o homem livre, não temais!

E a virtude não é palavra vã,
Uma vida a podemos cultivar;
E inda que um homem tropece, em seu afã,
À divina pode sempre aspirar.
E o que o siso dos sisudos não alcança,
Singela o faz um´alma de criança.

E um Deus é, e viva Sua vontade,
E inda que a humana possa vacilar,
Pra lá de tempo e espaço há a verdade
Da ideia suprema a fermentar.
E se tudo gira em mudança eterna,
A lei da permanência nos governa.

Guardai as palavras plenas de sentido,
Passai-as de boca em boca, vos proponho;
E se não as souberdes só de ouvido,
Voss´alma delas fará testemunho:
E a humanidade seu valor vai manter,
Se a fé nas três palavras não perder.


Trad. João Barrento in Rosa do Mundo, 2001 Poemas para o Futuro, Assírio & Alvim


PS.: Recomenda-se, ainda, uma leitura graciosa do texto "Do sublime", do mesmo Schiller.


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