4 de mar. de 2011

O Logo - o nome do blog

É longo, mas ....


O Muro

O primeiro que, havendo cercado um terreno, teve a ideia de dizer ‘isto me pertence’, e encontrou gente bastante simples para acreditar nele, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guerras e homicídios; quantas misérias e quantos horrores não teria poupado ao Gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou aterrando os valados, tivesse gritado aos seus semelhantes: “Não ouçam esse impostor; vocês estarão perdidos, se se esquecerem de que os pertencem a todos e de que a Terra não pertence a ninguém.”
Rousseau                       

Um muro é o que há de mais sólido para dividir dois espaços, duas partes, dois lados. É ele quem o faz ser, o um torna-se dois. Eu sou o muro. O que divido, não faço ideia; mas que há dois ou mais territórios, pronto me dou conta.
Está em discussão a formação de chapa para a nova diretoria do Sindiedutec. Sou convidado e estimulado a fazer parte. Não me oponho; lá me vejo assumindo a Diretoria de Assuntos Técnicos ou o que quer que seja. A partir de então, iludimo-nos todos, existe um responsável pelas opiniões dos Técnicos naquele que é o órgão a defender e promover nossos direitos. Pois digo ilusão porque nós temos uma grande afinidade entre a Administração Geral e o Sindiedutec; relação esta que não me pareceria, a priori, desqualificada, desde que se houvesse uma política de transparência entre ambos. Claro, num idealismo comunista: ambos buscando o bem comum e focados na realização do bem estar geral.  Porém, não tardou nada. Faltava um muro, aí se apresentava.
A temática era a Folha Ponto, a questão parecia ser a responsabilidade de informar do representante dos Técnicos no Conselho Superior, o fato era óbvio: não havia harmonia, aquela afinidade era pragmática e os atos eram silenciosos. Fui, muro, como quem deveria conduzir uma reunião entre dois espaços. Humanamente saí atordoado. Disse-me mais tarde um colega: “foi óbvio que você havia caído de paraquedas ali”. Mas sai contente, ainda que banhado das salivas disparadas em ataques e defesas de ambas as partes, dos dois lados. Lavado, saio ao sol para me secar.
Esta questão teve fim, para mim, há um bom tempo: o sol, inclusive, evita fungos. A questão da Folha Ponto, o qual sou adepto (mas não por isso não se deve discutir) da existência por duas razões, o dever e o poder, foi um ato da Administração, e apenas legitimado pelas forças, legítimas, da Administração. Eis, porém, a questão: a Administração poderia, ou deveria, ter agido de outra forma, que fosse mais participativa, ouvindo as partes envolvidas e não tomando como um ato seu apenas? Essa ‘A’ questão que supera o tema da Folha Ponto. Por isso, à peleja particular, assim considero, publicizada, após a reunião do Conselho Superior que decidiu a Resolução da Folha Ponto, entre e-mail e a publicação daquela Ata, eu naturalmente dei as costas e ignorei seus ‘in-significados’. Aos dois que assim agiram, trazendo as rusgas iniciadas quando me dispus em muro, lhes disse pessoalmente no momento em que tentavam se explicar: “enquanto os temas não forem participados e discutidos, apenas mais e mais atritos haverão entre as individualidades; portanto, nem se explique, não se preocupe, não tenho partido singular” (vocês dois possuem ampla liberdade para emitirem suas versões). Para mim, não há qualquer mistério em relação a isso; eu tomo sol.


O Sussurro

O diálogo é o modo, por excelência, de nós realizarmos nossa humanidade. Construir, produzir, formar sociedade, resguardar-se para o futuro são realizações alcançadas por vários animais, alguns de maneira a encher nossos olhos de admiração, talvez ‘inveja’. O diálogo, no entanto, é a capacidade fabular da pessoa humana. Sem o diálogo não haveria o raciocínio, uma pedra jamais seria um caminho e a caminhada seria fria como a morte. Sem o diálogo, a realidade não teria profundidade, qualidade ou textura. Os sentidos seriam luxúria, os prazeres seriam insanos, a fé seria imberbe.
Nossa história de humanidade é uma vasta recordação (re-cordis: do latim, voltar a passar pelo coração) em nossa identidade. Tudo o que somos, tudo o que podemos ser, tudo o que queremos ser está disposto em alguma origem sempre distante de nossa miúda presença. Essa é a substância mais límpida, porque transparente, de nosso meio: o Escolar. Quantos daqui, deste meio em particular, quantos daqui ignoram este fato? Podemos todos ter nossa especificidade, burocrática, informática, jornalística, contadora, pedagógica ou não; todos sofremos a educação, realizamos sua potencialidade e praticamos sua liberdade. A educação nos ensina a sermos grandes ante nossa miúda singularidade. É ela quem potencializa, no uso do diálogo, a compreensão de nosso fato, o existir, e nos demonstra a alegria do fato externo, a existência. E é assim, histórica e naturalmente, é assim que nos fazemos políticos: na co-existência. Este prefixo, co-, remete ao fato de que nenhum de nossos valores individuais se sobrepõe a outro, porque a existência é comum, em companhia, contígua.
Tudo isso é sabido e pacífico. Somos uma Escola (sim!, admitamos: somos uma Escola de educação básica e tecnológica, básica e primordial; mas não somos uma Universidade!). Tudo isso é sabido e pacífico, somos uma instituição pública. Vem de nossos ancestrais, também e com muita luta, a República e a comunitária democracia, cujos valores devem estar em todos os rincões de nossos lugares, em toda atmosfera de nosso ambiente, em todo encontro com nossos colegas. Mas tudo isso é sabido e pacífico. O que ninguém há de entender é porque aqui se sussurra tanto.
O fato de que não existam comissões estabelecidas para se agrupar as discussões na formação de proposições às temáticas de nosso trabalho não tira a legitimidade do que executa a Administração. Ela está correta em suas ações. E nós não teremos satisfação ou realidade, fundamento, se não o fizermos nós mesmos esta reunião de interesses. As queixas, as lamentações, os sussurros não servem para nada, posto que não movem diálogos. Este, para existir, tem de ter personalidade, acontecer em voz ativa. E não nos adianta agir para cobrar algo se não o fizermos com propostas para alguma coisa. A Administração, para mim, tem sido coerente em seus atos, porque age. Bem ou mal, autoritária ou democrática, ótima ou péssima: que importa essa simplista adjetivação, se não nos mobilizamos para demonstrar algo além do abstrato, algo que seja concreto? O fato de que suas atitudes sejam como são, é o fundamento para que nós tenhamos, façamos as respostas, de como deverão e poderão ser. Essa a mais transparente e legítima democracia. Não redimo, mas também não culpo, ‘a administração’ por este clima de burburinhos. Somos, por lei, uma entidade pública e democrática e temos o dever de agir para sua melhoria e aperfeiçoamento. Neste sentido, qualquer culpa é mera desculpa. A questão é a responsabilidade e ela é de todos nós.
(Abro aspas aqui para justificar, assim, a Carta Aberta que escrevi ao Presidente da Comissão Eleitoral. Eu a escrevi por obrigação legal e humana, já que discordo completamente que um servidor tenha que se submeter a este grande mal entendido, qual seja, o pedido de férias para exercer seu trabalho; também por causa desta relação direta, quando jamais poderia o ser, de um chamado telefônico, por que de uma comissão que necessita ampla legitimidade, onde devem agir excluídos de todos os particularismos e afinidades: somente o que transparece pode ser legítimo, e eu não posso (não poderia) me silenciar ante aquele testemunho. E não o fiz como acusação, porque acredito no (dele) direito de esclarecimento, público, sem restrição.)

A Sombra

A sombra não sou eu, mas de alguém que se direciona a um banco de praça para se encontrar com outros ‘alguéns’ e estabelecer um diálogo.
Meu nome é Migo e ocupo o cargo de Assistente em Administração na Pró-Reitoria de Interação com a Sociedade. Este blog não surgiu para confrontar espaço com o Sindiedutec, muito menos para fundamentar críticas à administração e ainda menos para panfletar nestas eleições à reitoria. Este blog surgiu por uma necessidade, talvez pessoal, porém pública. Não, não sou muro e já me sequei daquela discussão há algum tempo. Tampouco sou (apenas) Diretor Sindical e nem me prestarei a me fazer de cruz (essa idade é de um simbolismo...!) para qualquer sacrifício coletivo ou individual. Sou um servidor comum e, querendo ou não, dos concursados, minha posição na hierarquia é a base. Mas sou servidor. E, claro, sou ser humano.
Sou tentado, e é uma tentação muito forte, de nomear cada um dos servidores que tenho conversado de forma particular e que para mim transmitem alguma confiança para algo fazer. Mas jamais invadirei suas individualidades desrespeitando assim suas vontades. Eu o faria para que tudo isso que venho passando e que descrevo aqui, não seja um sussurro como os outros, a inexistir na realidade, e para demonstrar que não estou sozinho (que é o que creio). Como estas pessoas não se limitam a este ambiente da Reitoria, o modo pelo qual podemos iniciar uma ampla discussão em grupo e transparente se dá através da internet, daí o fundamento deste blog, para o qual me disponibilizo como ‘administrador’. Assim, depende de nós nos organizarmos para transferirmos o debate-diálogo da caixa de mensagens para um banco de madeira, da virtualização para a reunião, dos desejos para a realidade concreta. Este espaço eu o manterei para vocês se nomeiem, se comuniquem, dialoguem. Nós temos muitos temas a serem levantados e já sugiro uma forma: que em cada localidade (Campi) do IFPR se agrupem as pessoas interessadas e formulem as propostas, questões, respostas, ações... Veremos de que forma cada tema deve ser resolvido, como poderão ocorrer encontros de representantes destas localidades, como satisfazer nossas ansiedades. Eu não tenho lido e não tenho ouvido, por enquanto, nada em relação a isso. Mas alguns temas já são sabidos:
1)      Nossa representação no Conselho Superior: deverá ser realizada uma eleição muito em breve; devemos cobrar esta eleição; devemos divulgar esta eleição; devemos atrair “nossa classe”; podemos redigir um documento (esta uma sugestão minha) de compromisso para que nossos futuros representantes naquele conselho nos transmitam as informações sobre o que se discute e o que, como podemos fazer para o melhor do IFPR.
2)      Também haverá uma eleição para a CIS-Técnicos, que é uma comissão muito importante para a nossa categoria. Sobre este tema, a atual comissão já está providenciando a divulgação e a deflagração da eleição, e deveremos ter em breve um informativo sobre a mesma. É importante que todos os Técnicos participem, de todos os campi.
3)      Dentre os atos administrativos em vigência, temos que proceder com alguns questionamentos e proposições. Foi-me repassada, por um colega, a questão de o Estatuto normatizar a composição do Conselho Superior com acento para todos os nomes do Colégio de Dirigentes. Isso deve ser analisado e comentado: não está descaracterizada a proporcionalidade? Sei que existem outros temas e que existem outras ‘demandas’ a serem questionadas: a questão das eleições para diretores de Campus, por exemplo. A própria questão da Folha Ponto, do Regimento Geral, que ainda não se mostrou, entre outros. Não são questionamentos (apenas) meus, e se não nos manifestarmos, nunca se tornarão uma questão nossa.
4)      O Sindicato também é um tema a ser discutido. Independente do paladar político-partidário de cada um, é muito importante termos um Sindicato reconhecido e representativo de nossa categoria. A questão do Sindiedutec tem que ser claramente disposta e resolvida porque quanto mais nos ausentamos de sua condição, mas somos prejudicados por sua ausência. Ele é ou não legal para nós, Técnicos? Seria o Sinditest o nosso sindicato? Haveria alguma outra possibilidade? Isso também não é um questionamento apenas meu.
5)      As eleições para reitor: este é um grande momento para nós procedermos com o diálogo. Que fique claro, porém, que é um momento, mas que o diálogo deve ser realizado incessantemente. Comemorei, sim, o fato da existência de mais de um candidato e deixo explícita a razão disso, se não fosse óbvia: sem que houvesse uma apresentação pessoal e de propostas e de comprometimentos institucionais (porque com as pessoas da instituição), quantas das nossas ansiedades de participação não seriam deixadas como um sopro a se ignorar, tão fácil assim? E existem muitas coisas, impressões, atos e fatos que eu próprio quero me certificar, ver serem assumidos em público pelos candidatos, saber que existem como propósitos do próximo Reitor. Não como indivíduo, mas como servidor. Devido a tudo que tenho vivido, ouvido e sentido; devido ao que vocês têm transmitido e aos assuntos que aqui trato (e a tantos outros que devem ser tratados) e que busco explicitar a colaboração, o candidato único não faria qualquer movimento a reconhecer nosso sentido, porque não seria preciso. Então, teremos eleições, deveremos acompanhar para que transcorra, toda ela, legal e transparentemente, deveremos levantar nossas propostas e buscar apoio e comprometimento dos candidatos para com nossas questões. Devemos nos mobilizar.

São algumas das questões. Enquanto tudo isso não for por vocês comentado, assumido, dado em voz com nome e personalidade, serei nada além de uma sombra passante. Perdoem-me se escrevo tanto e vagamente; tento cuidar para que não haja discriminação ou apreciação equivocada. Sou um servidor, um observador e tenho desejos. Compartilho o que, compartilhado, deve ser consumado.
O blog se propõe a ter alguma funcionalidade; sua idealização é que seja um espaço transparente e comunitário. Eu gosto de escrever, mas me canso; e nós precisamos agir. Então, hajamos. Proponham. Façamos.

Mauricio

3 comentários:

  1. Anônimo3/10/2011

    Oi, Maurício!

    Desculpe estar como anônima. Não gostaria de ser apenas mais um sussurro, mas cada um faz o que pode considerando o contexto em que está inserido. Eu, por exemplo, se estivesse em uma situação minimamente mais favorável, seria a primeira a marcar posição, falar (às claras) o que penso para qualquer um ouvir. Para quem gosta de um bom debate de ideias, há poucas coisas mais prazerosas na vida do que ter opinião e poder colocá-la sem medo de ser feliz. E olha que tenho feito isso em cada oportunidade.

    Estou postando porque fiquei angustiada por ti. Você capricha no texto (deve ficar um tempo lapidando o pensamento) e poucas pessoas dão o retorno merecido. Conquistar a "participação" efetiva das pessoas é algo que demanda tempo e trabalho. Portanto, fique tranquilo e, mesmo cansado, continue escrevendo. É um alento confirmar que existam (ainda) indivíduos que refletem com classe e ousadia os problemas do cotidiano. Um desses problemas é a falta de coragem de muitos servidores (os estáveis) em expor o que pensam. Não sei o que eles podem perder: ei, servidores estáveis, o que vocês podem perder dando a cara a tapa?? ("tem um mundo a ganhar"...)

    Ah, eu adoro seus textos! Além de concordar com tudo, acho uma pérola a forma como escreve. O requinte é para poucos, parabéns!

    ResponderExcluir
  2. Anônimo3/11/2011

    Há uma outra questão a ser debatida, que na verdade puxariam outras, mas nos limitemos a ela.
    Há indicativo de greve da FASUBRA (Federação de Sindicatos de Trabalhadores em Educação das Universidade Brasileiras) para o dia 28 de março.
    Os pontos principais são:
    - campanha salarial (haja visto que não temos mais acordos a serem cumpridos)
    - contra a Medida Provisória 520 (que cria a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares S.A. (EBSERH), com o fim de "legalizar" os terceirizados dos Hospitais Universitários.
    - contra os cortes no orçamento da união.

    http://www.fasubra.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1619:por-unanimidade-categoria-dos-trabalhadores-tecnico-administrativos-aprova-greve-para-o-dia-28-de-marco&catid=5:plenaria&Itemid=19

    Universidade Federal do Paraná, Hospital de Clínicas e Universidade Tecnológica do Paraná devem parar. Como nós iremos nos colocar neste processo? Nós devemos nos somar ao indicativo da FASUBRA ou não? São questões para serem discutidas pelos técnicos e pelos sindicatos da categoria.

    ResponderExcluir
  3. Anônimo3/13/2011

    Maurício!
    Só agora tive tempo e tranquilidade de ler todo o conteúdo deste blog, ou melhor, deste importante instrumento de comunicação que vc teve a genial idéia de criar para nós servidores do IFPR.
    Infelizmente fatores externos me impedem por enquanto de deixar de ser um "anônimo" aqui, repito, por enquanto.
    Sua experiência de vida, sua formação intelectual e política, seu caráter, sua ousadia, somado a sua habilidade diferencial com o domínio das palavras, resultam neste democrático espaço de discussão....mais do que necessário no atual contexto. Parabéns!
    Abraço!

    ResponderExcluir