21 de mar. de 2011

Meu voto é do Boanerges, o Boa Nova do IFPR.

Quem faz injúria vil e sem razão
Com forças e poder em que está posto
Não vence, que a vitória verdadeira
É saber ter justiça nua e inteira
         
                      Camões (Os Lusíadas)


Gostaria de cumprimentar o candidato Prof. Colombo e parabenizar com orgulho a ‘aventura’ do Boanerges. Sim, Boa, não ganhamos as eleições ainda, mas já vencemos: demonstramos que não somos uma comunidade insossa e muda, que não só temos voz como temos vontade e capacidade de demonstrar nossa pessoa e nosso profissionalismo.
Aquele grupo pequeno que se reunia para dar origem a sua candidatura, por ter sido você o único a ter a coragem e ousadia de fazê-lo, conseguiu demonstrar o que é uma instituição democrática e, mais ainda, que nossas propostas são sólidas e comuns, sendo agora a mais legítima e possível de realização. Não que o Prof. Colombo não poderá realmente demonstrar o que propõem como novos rumos, mas seu mandato, se eleito, deverá ser, este sim, uma aventura. A qual deveremos acompanhar de perto, pois o que propõem é virar ao avesso tudo o que tem sido feito pela atual administração, a mesma que o selecionou como seu candidato.
Gostaria de parabenizar a todos os que contribuíram com nossas propostas, professores, técnicos e alunos. Para que fique claro, minha contribuição existe, mas muito aquém do que têm imaginado alguns e, aparentemente, para os dois candidatos, como se verá logo. Tenho recebido um tratamento que não tem qualquer propósito de ser, com uma fama que me espanta e não tem nada a haver com o que as coisas são por si mesmas. Vou contar-lhes como foi minha semana, de ré, para que entendam algo.
Recebemos nesta sexta-feira a visita do Prof. Colombo, na reitoria. As pessoas terão ampla liberdade para complementarem minhas faltas, este espaço é comum. Fiquei satisfeito pelo contato, o primeiro que tive, porque em momento algum, desde a origem de seu nome a candidato, antes da deflagração das eleições, eu tive oportunidade de vê-lo ou falar-lhe. Estimo que isto se dava por razões óbvias: a reitoria é o berço de sua candidatura e não seria por alguns poucos indecisos ou incisivos que ele “perderia” seu tempo por lá.
O Prof. Colombo nos falou e, em sua fala, eu sentia uma grande semelhança para com os artigos postados  neste blog. Diálogo entre as partes, elaboração de comissões para realização de normatizações, aceitação de críticas, planejamento geral e planejamento estratégico, gestão democrática, transparência irrestrita... Foi tão semelhante, tão semelhante que ele chegou a mencionar a analogia de desenvolvimento do IFPR comparado ao desenvolvimento de uma criança. Mencionou, também, os diversos meios existentes para interação dos servidores: “chat, fórum, e-mail, chat, é... fórum, enfim.“ É, faltou mencionar blog, o qual ele conhece, aprecia e segue. Mas é óbvio que tudo isso não existiu ali porque está neste blog: isso existe porque é o que deve ser o IFPR e é o que não temos no IFPR.
Daí a grande aventura do Prof. Colombo: de que forma se dará a “gradual transição”, já que o que necessita o Instituto é de uma forte e imediata transformação, a se iniciar, se existe uma pirâmide, do topo? (Abaixo lhes digo o porquê.) Ele falou também de sua experiência profissional, desde técnico a político (não necessariamente nesta ordem) e contou-nos alguns casos particulares de sua vida. Houve algumas perguntas, duas das quais me chamou a atenção e que não devem ser esquecidas. Digo isso para que percebam a necessidade incontida dos servidores desta instituição para dialogar: isso é do princípio de cada um no IFPR. O fato de eu ser colaborador da campanha do Boa não me faz ser o ‘mentor’ intelectual da mesma; existem professores e profissionais muito mais qualificados que eu naquele projeto.
As perguntas eram relevantes por que fundamentais. Fiquem a vontade para me corrigirem, sobretudo os autores das perguntas:
  1. Existe uma grande falta de comunicabilidade entre as próprias Pró-Reitorias do IFPR, por vezes uma tem de se submeter à outra e deixar seu próprio trabalho de lado. Como resolver este problema?
  2. Porque, em sua (Prof. Colombo) opinião, valerá à pena trabalhar no/para o IFPR, além da sujeição de um cargo e um salário?

Vejam, sou tão terreno quanto cada um aqui dentro; tão descontente e tão preocupado como cada um aqui dentro. Todos parecem ter as mesmas opiniões: “porque não nos ouviram e nos deram oportunidades de melhorar o nosso próprio trabalho e nossa instituição?” Mas estas vozes são a grande vitória, já conquistada, nestas eleições: nós falamos!
Além disso, o Prof. Colombo mencionou dois outros temas que me parecem fora de propósito, mas que são considerados relevantes dentro do IFPR. Ele, diferentemente de outros, o fez com justeza, demonstrou com clareza do que realmente se trata. O primeiro é sobre o Estágio Probatório, que, em minha opinião, poderia ter passado sem fazê-lo. É cada vez mais claro o fetichismo que existe no IFPR sobre o Estágio Probatório, “de cima para baixo”. Digo isto por uma experiência própria e gratificante, que me faz considerar como real tudo o que tenho ouvido dos Campi. E digo de “cima para baixo” porque está no programa (por e-mail) do Prof. Colombo que o exemplo tem de ser dado de cima. Por isso, gostaria de sugerir algo desde já e que seria inédito (penso, não tenho certeza) em autarquias do Brasil: instituir no IFPR o dispositivo de recall democrático (ver entrevista de Comparato ao Estadão). Este é o verdadeiro poder da comunidade: poder demonstrar o descontentamento com seu dirigente maior, também pelo voto. O exemplo tem de vir de cima, mas quem comprova (julga) o que é ou não exemplar são os que estão “em baixo”. Isso é a democracia: romântica, necessária, possível e real. O Prof. Colombo, no entanto, foi correto e digno quando disse: “o estágio probatório não é para reprovar o servidor; é para desenvolver o indivíduo em sua carreira e seu trabalho”. Eu complementaria dizendo que se algum desavisado fosse capaz de considerar um trabalhador (servidor) como “ruim, ruim e ruim”, três vezes consecutivas, estaria sendo naturalmente insano porque, como chefia, estaria se alto proclamando “incapaz, horrível e medonho”, respectivamente.
O segundo assunto mencionado, que também era fora de propósito para aquele momento, e que me tocou por motivos que logo relatarei, falava sobre “a ciência” da demissão. Existe todo um estudo científico sobre isso, o ato de se demitir, para que se minimize o “impacto” no demitido, para que seja dado um tratamento respeitoso e este não se suicide ou perca em demasia o seu sono e a sua razão. Ele comentou isso e deu exemplos de sua vida pessoal. O porquê de isso me ter chamado a atenção, agora lhes explico.
Minutos antes de entrar no auditório para ouvir o Colombo, recebo de uma voz amiga a segunda afirmativa da semana de que existe um processo administrativo (processo?) contra (ou a favor) minha pessoa. Procedem assim: identificam pessoas com quem tenho algum vínculo pessoal; informam a algum conhecido desta pessoa que o processo está cristalizado e que terei que me defender de alguma coisa, administrativa, jurídica, ou sei lá o quê. Sabem que a notícia chegará até mim. Com isso, o amigo, o conhecido do amigo e eu mesmo devemos ficar atentos, em silêncio, se possível, qualquer temor seria propício.
Este havia sido o segundo aviso (aviso?! alerta?!) deste tipo e se deu minutos antes de eu entrar no auditório para ouvir o Prof. Colombo dizer sobre as bases científicas da demissão. Foi mais ou menos assim: “existe como minimizar o sofrimento do demitido e uma das atitudes é demiti-lo pela manhã, para que o demitido se distraia durante o dia e durma bem de noite”. Na hora eu havia sacado (um saque é a pura imaginação): “querem o sofrimento, querem o silêncio, a dignidade, meu sono e meu fim de semana inteiro. O processo (?!) me será entregue nesta sexta-feira às 18 hrs., terei muito tempo para pensar, toda a noite, serei um ruminante durante o sábado e domingo e, então, se sobreviver, verei como me defender”. De fato, nada disso aconteceu fora da imaginação; exceção feita à ciência da demissão, que, creio, não tinha a intenção de ser para minha pessoa.
Ainda não tenho processos físicos a responder e tenho, sim, pensado bastante onde diabos caberia algum “erro” (?!). Mas conseguiram tirar um suor frio meu, que espantam meus amigos, que assustam seus conhecidos. A áurea processual faz cada indivíduo pensar um pouco melhor sobre a sujeição a um trabalho e a um cargo e o porque seria gratificante trabalhar em determinada instituição. E sobre isso eu tive um privilégio inquestionável e delicioso, um conselheiro de razão (jurídica) que me demonstrou o quão tenho me tornado famoso, pelo tanto de consideração que me dão.
Era quinta-feira. Eu estava um tanto apreensivo pela primeira comunicação virtual de um processo ainda irreal. Pela tarde, o Exmo. Sr. Procurador me procura. Foi quando se cristalizou o suor frio: daí em diante, quando existe a possibilidade de se falar e ouvir, não tenho qualquer gelo. Eu receberia um processo e teria que redirecionar meu calor, mas sairia desta atmosfera de ignomínia e poderia me defender por alguma razão, talvez humana, talvez jurídica.
No entanto, e daí me perco completamente, não havia um processo contra mim; não havia absolutamente nada contra mim e o Exmo. Sr. Procurador queria apenas averiguar se eu havia escrito um e-mail que não fazia sentido algum com o meu trabalho, minha pessoa e meu ambiente (reitoria). “Não, claro que não”, lhe respondi; “mas fico tremendamente impressionado com a fama que me dão.” Alguns me consideram o tutor da candidatura do Boa; outros o executor da campanha; e sei lá quantas outras possibilidades.
O Exmo. Sr. Procurador foi simpático em excelência, disse que estava ali para dar orientações, que em épocas de eleições é normal que o clima fique exaltado entre as partes e, claro, falou sobre o Estágio Probatório. Sobre este tema, ele adicionou o problema enorme de se ter de responder a processos administrativos durante este período, já que o “currículo” fica marcado. Também contou-nos sobre algumas de suas experiências e compartilhou alguns casos pessoais.
Disse-lhe, por fim, que a pessoa que havia recomendado, para ele, o meu nome como autor daquele e-mail, que se dispusesse a vir conversar comigo, se quisesse; sou grato por conhecer as pessoas, por poder me dispor a ouvir e a falar sobre nossas condições e motivações. E que desde o princípio defendi e defendo a candidatura do Boanerges porque as eleições é onde espaço da democracia melhor se justifica, onde teríamos um debate de ideias e propostas, onde surgiriam nossas legítimas insatisfações, de todos nós, para que sugeríssemos mudanças e propôssemos ações ao IFPR. O que jamais ocorreria havendo apenas um candidato. E até hoje me sinto atônito a acreditar que devemos (todos os servidores) aceitar que durante o processo de campanha, quando mais disponíveis ao IFPR tem de se fazer os candidatos, os mesmos devam sacrificar suas férias pessoais. Portanto, quando ouvi aquele diálogo ao telefone ficara naturalmente estarrecido pela forma sem transparência e, para mim, sem fundamentos com que exigiam do Boanerges que se retirasse em férias para promover o trabalho democrático para todos.
Hoje, sábado, ainda não tenho qualquer processo contra mim; não algo de fato. Mas tenho vários avisos de que existe. Como estamos em época de eleições, como me dão como um personagem de destaque na campanha do Prof. Boanerges, como o Prof. Colombo é originado da atual administração, começo a duvidar que eu receba o processo antes do dia do voto. Esta atual administração, aliás, têm recebido críticas de todas as partes e deve sim rever seus atos e suas atitudes, sem crer com isso que está sendo tratada com artifícios e politicagem, pois as motivações são gerais e são essenciais para a gestão democrática. E se o processo administrativo, contra ou a favor, não existe e não existir, que fique claro que é este tipo de comportamento que deve ser pacificamente combatido, denunciado e tratado de maneira exemplar: não pelo próximo reitor, mas pela atual e futura comunidade inteira do IFPR. Que haja algo para que eu responda, mas que sejam capazes de me dar a questão sem atravessar amigos e conhecidos. Aliás, é possível que um conhecido de amigo e o amigo em pessoa peçam licença quando minha presença se aproximar; eu os entenderei.
O clima é esse, de decisões pessoais tomadas sobre propostas fundamentais. Nós, Prof. Boanerges, já vencemos a batalha, ainda que nosso objetivo final seja receber a maioria dos votos das eleições. Nós já promovemos a democracia, as pessoas já reconhecem suas vozes e todos falam em mudanças e em ouvir. Parabéns Boa, professores, técnicos e alunos que estão juntos conosco, pela ousadia e a coragem. Demonstramos que temos propostas e temos personalidade e que nossa aventura é uma realidade que irá se concretizar por ela mesma: a força da comunidade.
O mal do Brasil (algo notoriamente presente aqui dentro) é achar que os políticos são os que resolvem os problemas do povo, quando na verdade é o inverso: somos nós que temos que enfrentar nossos problemas, assumir nossos compromissos e defender nossa riqueza. (Ah, sim: o Brasil é rico por natureza, “país rico é país sem miséria” é um péssimo slogan politicamente demagógico.)
Termino dizendo que caso o Prof. Colombo seja eleito, com satisfação terei o chimarrão pronto para que compartilhemos. Quanto ao suco de maracujá oferecido em sua fala aqui na reitoria (creem que foi para mim), não o recusarei, mas deixarei para antes de um bom sono noturno.
Parabéns para todos.
Até quinta-feira.

Mauricio Oberdiek

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